O Sienge, ecossistema de tecnologia e negócios da construção civil e do mercado imobiliário, lançou o Índice de Preços de Materiais de Construção (IPMC), no qual calcula a inflação dos cinco itens mais usados em obras: aço, argamassa, cimento, fio de cobre e tinta. Juntos, os insumos analisados podem representar até 55% do custo total de materiais utilizados nas obras no Brasil.
O lançamento do índice foi feito durante o Construsummit 2025, evento do Ecossistema Sienge realizado na semana passada em Florianópolis (SC). O IPMC aponta que o fio de cobre e o aço foram os insumos com maior inflação nos últimos 12 meses, com altas de 8,64% e 2,52%, respectivamente, seguidos do cimento, que registrou aumento de 1,79%. Por outro lado, a argamassa (-4,61%) e a tinta (-2,32%) tiveram deflação expressiva no mesmo período.
O novo índice foi feito com metodologia autoral da Cica Rev Consultoria e apoio institucional da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e deve ser divulgado mensalmente. Foram analisadas mais de 2 milhões de notas fiscais eletrônicas (NFe) em todo o Brasil, totalizando mais de 8 milhões de itens pesquisados via descrição da compra.
Índice aumenta informação para tomada de decisões
Segundo Gabriela Torres, gerente de Inteligência Estratégica do Sienge, o IPMC pode ajudar as empresas do setor a tomarem decisões com melhor embasamento. Sabendo a pressão inflacionária corrente, a empreiteira ou incorporadora pode se planejar melhor e decidir antecipar compras ou adiá-las. Ainda segundo ela, isso dá mais margem para a negociação entre as empresas.
Ela ainda ressalta que o IPMC é apurado com dados de vendas reais e não com informações repassadas por varejistas. “Um índice com dados de vendas reais traz mais clareza para a tomada de decisões. E se agrupados por um período de tempo maior, ele pode apontar tendências de queda ou alta de preços e servir para repensar estratégias”, diz Gabriela. Além disso, o estudo também agrega os dados por região, permitindo uma leitura mais precisa dos custos.

Gabriela Torres palestra no Construsummit 2025 (foto: Agência J.Somensi).
Fábio Garcez, diretor executivo e fundador do CV CRM (parte do Ecossistema Sienge), comenta que para haver resultados efetivos no uso do novo índice, as empresas precisam dispor de tecnologia que apoiem suas tomadas de decisão.
Resultados do IPMC – abril de 2025
Fio de cobre
Este foi o insumo que apresentou a maior variação de preços, com uma inflação acumulada de 8,64% em 12 meses, o que segundo Gabriela, pode estar associado à valorização do dólar, que impacta diretamente a cotação internacional do cobre. No início de 2025, o cenário se manteve bastante volátil e, mesmo após uma forte deflação nacional em janeiro (-3,24%), os preços voltaram a subir em março, puxados principalmente pela região Norte, que registrou uma alta de 5,33% no mês.
Entre maio e novembro de 2024, os aumentos foram particularmente expressivos, com altas de 3,31% em maio, 2,50% em outubro e 3,26% em novembro, indicando forte pressão inflacionária no segundo semestre. O início de 2025 manteve o cenário de volatilidade: janeiro registrou uma queda acentuada de 3,24%, seguida por um leve aumento em março (+0,86%) e nova retração em abril (-1,55%).
A inflação do fio de cobre também foi disseminada nas regiões do país, com todas fechando os últimos 12 meses com preços em alta. O Norte (16,94%), o Centro-Oeste (14,62%) e o Nordeste (13,48%) foram as mais pressionadas.
Aço
A inflação do aço no Brasil acumulou alta de 2,52% nos últimos 12 meses, marcada por oscilações significativas. Após uma sequência de deflação, o IPMC mostra que os preços começaram a subir gradualmente a partir de julho de 2024, culminando em um pico expressivo em setembro, com aumento de 1,92% no mês. No entanto, esse movimento foi seguido por uma queda acentuada no início de 2025, com recuos de 1,24% em março e 1,72% em abril, indicando uma possível correção de mercado após a forte valorização registrada no terceiro trimestre do ano anterior.
No cenário de inflação regional, entre julho e outubro de 2024, o preço do aço apresentou os maiores reajustes, com destaque para a região Norte, que registrou uma alta de 2,65% em julho. As demais regiões também acompanharam essa tendência, com variações acentuadas nos mesmos meses, impulsionando a inflação do insumo em nível nacional. No entanto, esse movimento de alta deu lugar a uma queda generalizada nos preços em março e abril deste ano, quando todas as regiões do país apresentaram deflação.
Argamassa
O item registrou uma deflação acumulada de -4,51% nos últimos 12 meses, refletindo um cenário de queda nos preços em nível nacional. Após recuos em julho e agosto de 2024, com variações de -0,47% e -1,01%, o insumo teve um pico de alta em dezembro, quando os preços subiram 1,39%. No entanto, esse movimento foi seguido por uma nova trajetória de queda no início de 2025, culminando em abril com o maior recuo do período, de -1,50%. A sequência de deflações sugere uma correção nos preços após os reajustes registrados no fim do ano passado.
Enquanto o Brasil registrou uma deflação acumulada de 4,51% no preço da argamassa em 12 meses, a região Norte se destacou como a única a apresentar alta, com inflação de 3,17%. Em contrapartida, as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste foram responsáveis por puxar a média nacional para baixo, com quedas expressivas nos preços. O destaque ficou por conta do Centro-Oeste, que acumulou uma deflação de 7,51%, refletindo um movimento mais intenso de ajuste no mercado regional.
Cimento
Um dos insumos mais usados na indústria da construção civil apresentou alta discreta de 1,79% no acumulado dos últimos 12 meses, como mostra o IPMC. Entre junho e agosto de 2024, os preços registraram seu pico, com aumento de 0,69% em julho, seguido por uma reversão e oscilações negativas no início de 2025.
O começo do ano foi marcado por instabilidade, com recuo de 0,36% em janeiro e variações discretas em fevereiro (-0,13%) e março (-0,07%). O mês de abril, por sua vez, trouxe um aumento expressivo de 0,97%, indicando possível retomada da tendência de alta no curto prazo. Gabriela destaca que “o mês de abril trouxe um aumento expressivo de 0,97%.
No acumulado dos últimos 12 meses, o preço do cimento apresentou queda ou estabilidade na maioria das regiões do Brasil. O Norte teve a maior deflação: 0,63%. A exceção foi o Centro-Oeste, que acumulou alta de 3,28%, responsável por elevar a média nacional.
Tinta
O preço da tinta apresentou uma trajetória marcada por forte volatilidade nos últimos 12 meses a nível nacional, encerrando o período com deflação acumulada de 2,32%. O insumo oscilou ao longo do ano, com quedas relevantes em julho (-0,94%) e dezembro de 2024 (-0,89%), intercaladas por altas pontuais, como em outubro (+1,39%) e janeiro de 2025 (+1,04%).
No entanto, o movimento mais surpreendente ocorreu em abril deste ano, quando a tinta registrou uma queda expressiva de 4,21%, a mais acentuada do período. Embora não haja uma causa única evidente, esse comportamento pode estar relacionado a variações no ritmo de consumo ao longo do ano. De acordo com o Indicador ABRAMAT, o faturamento deflacionado do segmento de acabamento recuou 3,6% em fevereiro de 2025 frente a janeiro, sinalizando possíveis ajustes de mercado. “Precisamos continuar acompanhando os próximos meses para entender se essa deflação representa uma tendência mais duradoura ou um movimento pontual”, avalia Gabriela.
No recorte regional, o Centro-Oeste apresentou a maior deflação no acumulado dos últimos 12 meses (-8,43%), seguido pelo no Norte (-7,93%) e Sul (3,32%). O Sudeste e Nordeste tiveram as menores quedas – 0,43% e 0,22%.
*O jornalista viajou a convite do Sienge.