Dois provedores já têm financiamento direto do BNDES

Nelson Valêncio – editor executivo – 03.06.2016 – 

Apesar das barreiras para busca de crédito, instituição investiu – via bancos comerciais – R$ 437,1 milhões em ISPs entre 2009 e 2015. Nesse ano, os dois primeiros investimentos diretos foram aprovados, com valores acima de R$ 20 milhões cada. Informações foram dadas ontem durante o 8 ISP. 

Irecê Kauss Loureiro é uma espécie de “dona do cofre” dos financiamentos na área de TI e telecomunicações do BNDES. Diretora do Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação, ela chefia a área responsável pelos desembolsos aos dois segmentos. Somente para os provedores, avaliados no rol de pequenas e médias empresas, ou seja, cujo teto de faturamento bate nos R$ 90 milhões/ano, o banco desembolsou R$ 437,1 milhões entre 2009 e 2015. Desse volume, 72,8% foram viabilizados via cartão BNDES, o que significa a compra de máquinas, equipamentos, serviços e insumos. Todo os financiamentos – até esse ano – foram feitos exclusivamente via bancos comerciais. Isso significa dizer que nenhum deles superou os R$ 20 milhões limite para o financiamento direto via BNDES. Agora, dois deles saíram desse patamar.

A executiva do BNDES, que participou ontem do 8 ISP promovido pela Abrint em São Paulo, não citou o nome dos provedores contemplados. Mas deu a dica, lembrando que o mecanismo de transparência do banco deverá informar – nos próximos meses – quem são eles. O que Irecê enfatizou, no entanto, é que há dinheiro disponível, mas os provedores precisam fazer a lição de casa quando quiserem contratar um financiamento. E isso envolve não só questões burocráticas, mas também ter um plano de negócios bem estruturado. A insuficiência de documentos aparece como segundo principal entrave na negociação com o BNDES, só superada pela insuficiência de garantias reais. O terceiro fator é o registro em mecanismos como Serasa e Cadin, pecado mortal na hora de sentar com o gerente de qualquer banco.

Infelizmente a expansão de redes não é tida como projeto de inovação, segundo Irecê. “Expansão de redes é expansão de redes”, reafirmou brincando. O que não é brincadeira, segundo ela, é o aumento das opções de crédito, incluindo o Progeren para capital de giro. Ele se junta às três opções atuais: o cartão BNDES, já descrito acima e líder em desembolsos, o Finame, exclusivo para máquinas e equipamentos, e o BNDES Automático, para projetos de investimento. Em 2015, o cartão BNDES continuava predominante, respondendo por R$ 90 milhões dos R$ 122,5 milhões, seguido pelo Finame (R$ 25 milhões) e pelo BNDES Automático (R$ 7,4 milhões).

Os conselhos da executiva do BNDES foram referendados pela analista do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, Juliana Müller. Segundo ela, o ministério partilha da preocupação dos provedores em “destravar” a burocracia da concessão de crédito.

Para entender as barreiras que podem complicar o meio de campo, a analista liderou um estudo informal em parceria com o Banco do Brasil  (BB): no segundo semestre de 2014 ela acompanhou o processo de pedido de financiamento de 13 provedores regionais das cinco regiões brasileiras. “Não se trata de uma amostra com valor estatístico”, adverte. Segundo Juliana, a ideia era entender como o processo se desenrolava. “Infelizmente nenhum deles tomou empréstimo”, adianta a especialista. O ponto positivo da pesquisa foi uma espécie de lista de sugestões elaborada a partir da experiência.

Para Juliana, o processo pode ser dividido em três etapas principais, sendo a segunda – avaliação de riscos – a mais complicada para os provedores. Na primeira, chamada de análise de cadastro, o processo é mais burocrático e tem fases básicas como verificar se não há nenhuma pendência fiscal ou trabalhista em nome da empresa, entre outras ações. A etapa final, de comprovar a garantia do empréstimo, também é espinhosa para quem não tem a casa organizada.

Enquanto um fundo garantidor não sai efetivamente do papel, a mensagem da analista é que os provedores comprovem claramente que seu modelo de negócios funciona. “Muitos conhecem bem sua operação, mas precisam conhecer também o mercado, inclusive seus concorrentes, e possuir uma estruturação financeira melhor”, argumenta.