Goodbye, sleep tight, operadoras de telecom

Por Rodrigo Conceição Santos – 18.10.2016 –

O presidente da telefônica, Amos Genish, dá adeus ao setor de telecomunicações e deixa recado para que as operadoras não continuem “adormecidas” no cenário digital.

Foto de Divulgação da Telefonica-Vivo
Foto de Divulgação da Telefonica-Vivo

Amos Genish está encerrando a carreira de 20 anos como executivo de telecomunicações e deve dedicar-se a novos empreendimentos a partir de Londres, na Inglaterra. Mas antes do tchau ele deixa o recado para que as operadoras de telecomunicações transformem-se em empresas digitais, ou continuarão “adormecidas” no novo cenário digital.

O feeling visionário – de fundador da GVT, que se revelou a única operadora-espelho sólida no mercado brasileiro e que foi posteriormente vendida para o grupo Telefonica-Vivo, onde Genish atua como presidente no Brasil – traz na bagagem um conjunto de informações para justificar o recado dado às teles. A primeira é a leitura das cifras, que caem à medida que o serviço de voz perde importância para o usuário.

“De 2011 a 2015, a quantidade média de minutos gastos por usuário caiu 22%, passando de 491 para 381 minutos/mês”, diz ele. “As receitas provenientes desse serviço caíram também (cerca de 20%), apesar de voz ainda ter sido a principal fonte da Telefonica-Vivo, representando cerca de 45%, no ano passado”, completa.

Em contrapartida, o tráfego de dados aumenta exponencialmente, puxado por vídeos. E esse tráfego, segundo o ele, está em sua maior parte (80%) nas redes Wi-Fi, de telefonia fixa ou móvel, o que mostra a necessidade de investimentos em infraestrutura de telecomunicações, principalmente fibra óptica. Afinal,  ele avalia, a demanda por transmissão de dados e vídeos em alta velocidade, o advento da internet das coisas e outros serviços numa preparação para o que será o 5G em alguns anos, torna inviável pensar em investimentos parrudos nas redes antigas de cobre.

E assim a Telefonica-Vivo tem um plano de investimento de aumentar em 50% a sua implementação anual de fibra óptica no Brasil. Paralelamente, ela quer aumentar em 13 vezes a cobertura de rede 4G anualmente, o que deve ser um apoio para reduzir a lacuna de conectividade do Brasil em relação a outros países. “Somente 58% da população brasileira tem acesso à internet, sendo que 9% disso tem cobertura 4G. Em mercados mais avançados, como no Canadá, mais de 90% da população tem acesso e nos Estados Unidos 98% tem cobertura 4G”, diz Genish.

Os investimentos em redes, diz ele, são altos no Brasil, apesar do déficit. Em 2015, por exemplo, foram R$ 29 bilhões (todas as operadoras) aportados. Isso significa crescimento de 27% sobre o que era investido anualmente em 2011. “O problema é que há uma demanda reprimida, pensando que nesse período o tráfego de internet no país cresceu quatro vezes”, diz ele. “Mas fica difícil justificar mais investimento, tendo em vista que o retorno (ROI), que era de 10,5% ao ano em 2007, hoje está na casa dos 7%, quando equacionamos com a taxa Selic”, completa, salientando que esse ROI é menor do que o de uma aplicação bancária comum.

Mas investimento em infraestrutura é só um dos desertos que o setor precisa atravessar. E não é o maior. Para Genish, o grande desafio é ampliar os serviços das teles, que devem passar a ser empresas inteiramente digitais, ao invés de provedoras de conexão, como são naturalmente. Isso, segundo ele, envolve ofertas diversas, incluindo publicidade, conteúdos de entretenimento como mini-séries, etc.”, diz.

“O lado positivo é que interagimos diretamente com o cliente final, pois temos seus endereços, histórico de gastos, etc. E isso nem sequer Google e Facebook têm”, pontua. “O lado negativo é que demoramos demais para iniciar a digitalização e é incrível ver como outros setores fizeram isso antes e nos serviram de exemplo recentemente, caso da Magazine Luiza e da Itaú, ambos inspiradores de  projetos recentes da Telefonica-Vivo”, conclui.