Gás deve sair do sistema de energia global até 2040

Redação – 28.06.2022 – A intenção é limitar o aquecimento a 1,5°C, segundo relatório da Climate Analytics 

O gás natural liquefeito (GNL) deve sair rapidamente da geração de energia elétrica depois do carvão – já em 2035 nos países ricos, e em 2040 para o resto do mundo. A afirmação é do estudo “Gás fóssil: uma ponte para lugar nenhum”. A intenção é manter ao alcance a meta de 1,5°C de aquecimento do planeta proposta no Acordo de Paris. 

A pesquisa foi conduzida pela Climate Analytics, que buscou indicar quando diferentes regiões do planeta precisam eliminar gradualmente a geração de eletricidade a partir do gás fóssil para serem compatíveis com a meta. Em nível global, a análise descobriu que o declínio na geração de eletricidade a gás deve começar imediatamente, e cair para apenas 15% da geração total de eletricidade global até 2030 para atingir níveis muito baixos até 2035. 

Os pesquisadores afirmam que o GNL não pode ser um combustível de transição. A eliminação progressiva do gás para a produção de energia em todas as regiões precisa ser de, no máximo, cinco a dez anos depois do carvão, o que é muito curto para que os investimentos sejam economicamente justificáveis e não fiquem encalhados. 

Embora haja um consenso crescente entre os governos sobre a necessidade da eliminação progressiva do carvão, o gás fóssil tem voado fora do radar. Muitos governos estão respondendo à atual crise energética planejando uma nova infraestrutura de gás para substituir os suprimentos russos. 

Brasil prevê investir em gás 

O Brasil é o terceiro país do mundo a investir em novas infraestruturas de gás que correm o risco de ficarem encalhadas logo depois de prontas devido ao avanço das renováveis. O gás fóssil, liquefeito ou não, é o quarto produto mais importado pelo País entre janeiro e abril de 2022. Na comparação com o mesmo período em 2021, houve um aumento de 11,6% nas importações de gás, enquanto o preço subiu 133,3%.  

Segundo o iCS (Instituto Clima e Sociedade), o Brasil tem importado quantidades crescentes de gás natural liquefeito para queimar em termelétricas, particularmente em Sergipe e Rio de Janeiro. As importações vêm dos Estados Unidos, diz o instituto, que tem preços astronomicamente altos e que agora vai continuar caro e com preços voláteis enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia se mantém. 

Além disso, na lei que aprovou a privatização da Eletrobras, há um dispositivo que obriga a contratação de 8 GW de usinas termelétricas a gás natural nas regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste a partir de 2026.  

Ajuda aos países em desenvolvimento 

A pesquisa da Climate Analytic afirma que há diferenças importantes entre os caminhos que países ricos e pobres devem e podem trilhar. Os países desenvolvidos precisarão primeiro eliminar gradualmente o gás, para cair abaixo de 10% da geração total da energia elétrica até 2030, e efetivamente ser eliminados gradualmente até 2035. Para os países em desenvolvimento, a parcela da geração de gás fóssil deverá cair para menos de 10% até 2035, e ser eliminada gradualmente até o início da década de 2040. 

Os países em desenvolvimento precisarão ainda de apoio financeiro e técnico dos países desenvolvidos para promover a transição de seus sistemas de energia em ritmo acelerado, afirma o texto. 

O relatório usou como base de cálculo os caminhos de emissões avaliados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que são projetados para mostrar a maneira mais econômica de limitar o aquecimento a 1,5°C.