Queda do mercado de informática e telecom derruba faturamento da indústria eletroeletrônica

Redação – 08.12.2023 – Consequências da pandemia derrubam resultados dos dois segmentos e diminuem faturamento da indústria em 6% na comparação com 2022

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) apresentou números nada promissores para o setor em 2023. Projeções indicam que o ano irá encerrar com faturamento de R$ 204,2 bilhões, uma queda nominal de 6% na comparação com 2022. Grande parte desse retrospecto recai sobre os setores de Informática e de Telecomunicações, que devem ter perdas de 17% e 21% no ano, respectivamente.

Enquanto o setor de Informática, representado principalmente por smartphones, tablets e PCs, deve faturar até R$ 36,5 bilhões, o setor de Telecom, produtor de cabos de fibra óptica e outros insumos, deve chegar a R$ 36 bilhões. O outro segmento que perdeu vendas e receita foi o de Componentes Elétricos e Eletrônicos (-25%), que abastece principalmente os dois primeiros mercados.

A Abinee explica que o setor de TI ainda sofre impactos da antecipação de compras de eletrônicos, principalmente notebooks, em 2020 e 2021. Entre 2019 e 2021, o faturamento da área de Informática subiu 78%, chegando a R$ 47 bilhões, influência direta das compras para atender às necessidades do trabalho remoto e ensino à distância. Além disso, outros fatores inibiram as vendas em 2023, tais como restrição de crédito, endividamento das famílias e queda no tíquete médio dos produtos.

Também afetaram negativamente as vendas de celulares (-14%) o crescimento significativo do mercado irregular de aparelhos, cuja participação nas vendas totais passou de 8% (em 2019) para 21% no quarto trimestre deste ano. O ponto positivo é que o faturamento do setor ainda está bem acima do registrado em 2019, quando o segmento de Informática registrou R$ 26,6 bilhões.

Informática cai e puxa Telecomunicações

Ainda segundo a Abinee, o mau retrospecto do setor de Telecom foi resultado direto da redução das vendas de tablets, smartphones e PCs, pois estes são os grandes consumidores das capacidades das redes de fibra óptica e 5G. Se não tem mais demanda por conectividade puxada pelos consumidores e seus dispositivos, isso reflete em consumo menor de tráfego de dados.

Outro ponto também foi o impacto da pandemia, que fez provedores de Internet e operadoras investirem pesado em infraestrutura de telecom, com redes de backbone e também de FTTH para atender novos clientes. A Abinee explica que, em 2023, o mercado de telecomunicações está em um ponto de formatação e consolidação, o que diminui os investimentos em infraestrutura.

Desempenho geral da indústria eletroeletrônica não é tão negativo

O número de empregados do setor também teve queda e deve encerrar o ano com 263,3 mil trabalhadores, 4 mil vagas a menos que no final de 2022. A utilização da capacidade instalada passou de 76% em dezembro de 2022 para 72% no final de 2023, percentual mais baixo desde junho de 2020 (68%). Por outro lado, tiveram desempenho positivo no faturamento do setor as áreas de GTD (5%), equipamentos industriais (4%), utilidades domésticas (6%) e automação industrial (19%).

Outro destaque positivo foram as exportações do setor, que apresentaram aumento de 7%, totalizando US$ 7,2 bilhões. Destacaram-se os crescimentos nas vendas externas de bens de Automação Industrial (+32%), de Material Elétrico de Instalação (+24%) e de bens de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica – GTD (+24%).

As importações recuaram 5%, somando US$ 43,1 bilhões. Os semicondutores (que compreendem diodos, circuitos, memórias etc) foram os itens mais importados, alcançando US$ 5,3 bilhões. Individualmente, o produto mais importado do setor foi o módulo fotovoltaico (US$ 3,9 bilhões), que ficou na quarta posição no total geral das importações do Brasil.

Dessa forma, o déficit da balança comercial totalizou US$ 35,9 bilhões, resultado 7% inferior ao apresentado em 2022 (US$ 38,6 bilhões). Vale destacar que a queda no déficit foi mais influenciada pela retração nas importações, em virtude da queda na produção interna, do que pelo aumento das exportações.

Os investimentos recuaram 6%, totalizando R$ 3,5 bilhões, o que representa 1,72% do faturamento do setor, participação similar à registrada em 2022.

Perspectivas

As expectativas são de melhora no desempenho da indústria eletroeletrônica em 2024, porém permanecem as incertezas em relação ao cenário interno e externo, o que deverá manter os empresários cautelosos. Um fator positivo é a esperada Reforma Tributária, que deverá aumentar a competitividade da indústria, reduzindo a complexidade do sistema tributário do País e desonerando as exportações e os investimentos. Segundo a Abinee, a nova Política Nacional de Semicondutores e a construção de uma política de neoindustrialização também podem trazer expectativas positivas para o setor.

A mais recente Sondagem realizada com os associados da Abinee indicou que 64% das empresas do setor projetam crescimento para as vendas da indústria eletroeletrônica para 2024, 33% esperam estabilidade e 3% preveem queda.

O setor espera um aumento nominal de 2% no faturamento, que deverá alcançar R$ 208 bilhões e projeta elevação de 3% na produção. O nível de emprego deve passar de 263,3 mil para 266 mil trabalhadores. Já os investimentos devem aumentar 3%, totalizando R$ 3,6 bilhões. As exportações devem crescer 4% (US$ 7,5 bilhões) e as importações, 3% (US$ 44,5 bilhões). E capacidade instalada deve aumentar de 72% para 74%.