Abrindo caminho para o 5G

Por Kalyan Sundar * – 07.06.2017 – 

Foi um grande avanço quando, há menos de uma década, as operadoras de telefonia móvel lançaram os serviços de 4G/LTE. No entanto, isso não se deu somente por causa das velocidades de download e streaming para os clientes, mas também pelas implicações mais amplas geradas por essas velocidades. A LTE trazia a promessa da telemedicina, da tecnologia aprimorada para primeiros-socorros, da tecnologia caseira inteligente e muito mais. De certa forma, nós colhemos os frutos dessa conectividade móvel mais rápida.

De fato, a introdução das tecnologias 5G não poderia ter acontecido num momento melhor. O advento da Internet das Coisas aumentou a necessidade de melhorar a conexão, o gerenciamento e a integração dos dispositivos inteligentes às arquiteturas de rede das empresas. Porém, como podemos integrar de maneira eficaz esses novos dispositivos tão variados e não centralizados aos sistemas de alta-velocidade? A resposta é: através do 5G.

Esse próximo grande passo englobará tanto o espectro licenciado quanto o não licenciado, de forma a oferecer uma alternativa que não só competirá com as atuais opções de conectividade mas que deverá ultrapassar muitas delas. No entanto, esse sonho ainda não se tornou realidade. Ele requer um esforço conjunto para dar certo. A seguir, descreverei a ideia por trás do 5G e o que podemos esperar dele se essa iniciativa der certo.

O Caminho para o 5G

O LTE-Advanced Pro, um passo crucial para o 5G, já se tornou oficial. Ele inclui o 3GPP Release 13 (publicado no ano passado) e o Release 14 (com lançamento previsto para meados de 2017). O LTE-Advanced Pro requer um volume de vazão maior de até 3Gbps por célula ou por  equipamento de usuário (EU). Este é um aumento significativo em relação ao ~1Gbps necessário para o LTE-Advanced.

Diferentemente da rede com fio, é difícil alargar os cabos sem fio para possibilitar um aumento no volume de dados enviados para o usuário. Isto se deve ao fato de que as redes sem fio precisam operar no ar, nas bandas para as quais foram autorizadas, e isso custa bilhões de dólares. Existe uma oferta bem limitada de bandas licenciadas e regulamentadas, o que inibe os recursos necessários para alargar os cabos mesmo quando a tecnologia permite.

Por outro lado, o Wi-Fi é menos regulamentado e opera “gratuitamente” no ar, em bandas não licenciadas ou não regulamentadas. Há menos regras sobre quem pode acessar esse meio e o espectro disponível é maior comparado ao seu equivalente licenciado.

No entanto, com as inovações recentes, operar o LTE dentro do espectro não licenciado tornou-se uma alternativa viável. Começando com o LTE-U e evoluindo para o LAA e o Multefire, a experiência de operar o LTE dentro desses espectros melhorou muito. Isto se tornou uma ótima alternativa para as operadoras acrescentarem/alargarem seus cabos de dados além do seu espectro licenciado.

Aproveitando essa oportunidade, o LTE-A Pro permite o uso do espectro não licenciado onde possível para atingir velocidades de dados maiores, tais como 3Gbps.  Isto será utilizado para aumentar o espectro licenciado, ao qual essas bandas serão acrescentadas de forma a criar cabos de dados mais largos que consigam transportar múltiplas vezes os dados que nós transportamos hoje em dia.

Adicionalmente, isso melhora muito a experiência do usuário, pois através do LTE ele pode movimentar-se entre o espectro licenciado e o não licenciado, ao invés de entrar e sair do Wi-Fi, que tende a ser instável.

Eventualmente, o espectro 5G, que será lançado em junho de 2018, virá com detalhes sobre bandas maiores (bandas mmwave), onde também há uma grande quantidade de espectros licenciados e não licenciados. Isto demonstrará como nós podemos utilizar essas bandas de maneira eficaz para aumentar as velocidades de dados dos usuários para 10 Gbps. Até lá, através da utilização da agregação de operadoras e do LTE no espectro não licenciado, nós abriremos as portas para velocidades de dados maiores e para uma melhor experiência do usuário.

Uma nova tecnologia para um mundo novo

Eu gostaria de mencionar alguns casos de uso que se beneficiaram muito da largura de banda adicional oferecida pelo espectro não licenciado:

Imagine um dispositivo de realidade ampliada que transportasse você e seu parceiro para passar uma noite em Paris. Para isso, serão necessários dados de alta-velocidade (vídeo de 8K)  e a promessa de proporcionar essa experiência ao vivo a partir do seu quintal logo será realidade.

Há também as experiências sem fio contínuas de verossimilhança (passar de um ambiente externo para um interno enquanto assistimos a um jogo de futebol ao vivo será perfeito para churrascos). Será possível obter conectividade contínua através do LTE que pode operar em ambientes externos no espectro licenciado e em ambientes internos no espectro não licenciado.

Conforme nos acostumamos com isso e as velocidades continuam aumentando, a possibilidade de um cirurgião supervisionar um transplante de coração a milhares de kilômetros de distância não será algo tão distante da nossa realidade.

Um Recado aos mais espertos

Esses benefícios não acontecerão somente devido a um upgrade na conectividade de rede e a uma nova geração de dispositivos. Na verdade, não haverá nenhum benefício se as empresas e os indivíduos não entenderem as nuances e os riscos do 5G
O 5G no seu estado mais avançado permitirá o funcionamento de uma rede multifacetada que hospedará dispositivos para todos os tipos de necessidades. Agora imaginemos como seria manter uma linha de visibilidade e controle dentro desse mesmo ambiente – é um prospecto assustador.  Testes e monitoramentos de um modo geral também enfrentarão dificuldades, pois os ambientes continuarão a incluir novos dispositivos às redes que não são mais tradicionalmente configuradas e utilizadas. Há ainda a questão da segurança. Assim como os pontos de acesso públicos, ninguém controla o espectro não licenciado, tornando mais fácil para os hackers invadirem os dispositivos ou escutarem as atividades da rede.

Basicamente, nada poderá deter o avanço do 5G. É uma necessidade inevitável e a decorrência natural da nossa crescente dependência do software e da tecnologia inteligente no nosso dia a dia. O 5G será para o LTE o equivalente do que a banda larga foi para o DSL. Será que estaremos prontos?

* Kalyan Sundar é Vice- Presidente de Engenharia da Ixia.