Ameaça ou oportunidade: digitalização invade universo das utilities

Por Nelson Valêncio, editor executivo do Infraroi  – 25.05.2016 –  

Para especialistas da McKinsey, apesar de visto como ameaça por boa parte das concessionárias de energia e de outros setores, o processo pode aumentar a lucratividade, em média, entre 20% e 30%

A digitalização das concessionárias de serviços públicos pode melhorar a operação e aumentar a flexibilidade de toda a cadeia de valor dessas empresas. Mais do que isso, pode incrementar a lucratividade em níveis entre 20% e 30%. A informação é dos especialistas Adrian Booth, da filial da McKinsey em São Francisco, e de Niko Mohr e Peter Peters, ambos do escritório da consultoria em Dusseldorf, na Alemanha. O trio é autor do artigo The digital utility: new opportunities and challenges, divulgado no começo desse mês.

Os índices de melhoria foram baseados em estudos de casos reais e são uma média dos resultados aferidos pelas concessionárias que avançaram na digitalização em um nível mais amplo. Para os consultores, a digitalização nas concessionárias acontece a partir de melhorias em três frentes: adoção de medidores inteligentes e dos conceitos de rede inteligente (smart grid), ferramentas de produtividade digital para os colaboradores e automação dos processos de back office.

De acordo com o trio, uma utility digital terá mudanças ao longo de toda sua cadeia de valor, começando com a aplicação dos recursos de Big Data para alinhar o imenso volume de dados sobre suprimento (seus ativos de geração e distribuição) com os de demanda (os dados e perfis de seus clientes na ponta da rede). As informações sobre ativos, por exemplo, pautarão as estratégias preventivas e preditivas, ou seja, a manutenção poderá ser antecipada baseada em informações fornecidas em tempo real.

Os recursos da smart grid, por sua vez, permitem que as utilities de energia automatizem o controle da distribuição de energia, por exemplo, melhorando a segurança e eficiência da operação. Ainda em termos de rede física, as informações sobre usuários que também produzem sua própria energia – e a interligam na rede principal – permitem que a geração distribuída não afete a qualidade da operação da concessionária.

Já a força de campo – seja de operação ou manutenção – pode ser melhor orientada com acesso móvel direto a mapas, ferramentas de gerenciamento de trabalho e acesso à especialistas da empresa em tempo real, quando for necessário. Esse cenário não é futurístico como indica a experiência de empresas brasileiras já mostradas no Infraroi. Outro grupo de funcionários, os que atuam no back office, também podem ser favorecidos com automação de parte de suas tarefas, baseada em dados coletados da rede e dos consumidores.

Um caso real citado pelos especialistas, mas não nomeado explicitamente, envolve uma concessionária de energia que aumentou seus ganhos em 23,2% depois de investir na digitalização de várias operações. Os incrementos começaram na geração de energia (6,6% do total), com a otimização da manutenção da planta e gerenciamento de peças sobressalentes e de combustíveis.

O processo continuou com o trading (2,5%), onde a digitalização melhorou a tomada de decisão e permitiu uma avalição melhor da energia disponível para venda. Na distribuição, o estudo de caso indicou um incremento de 4,3% nos ganhos (antes da aplicação de impostos e taxas) em função de redução de perdas, da produtividade da força de trabalho de campo e das iniciativas de manutenção preditiva.

A comercialização para o consumidor de varejo representou a maior parcela dos ganhos (8,5%) e, nesse caso, a digitalização envolveu três frentes: a oferta de novos produtos, a adoção de segmentação de consumidores e aplicação de precificação melhor para a concessionária e, finalmente, a digitalização das operações em si.

As melhorias também incluíram o quartel general da utility, com a otimização das operações e o gerenciamento por meio de ERP, plataforma de planejamento de recursos empresariais. A conta total foram os 23,2% de aumento nas receitas.

Falando especificamente de rede física, as principais mudanças na infraestrutura devem estar focadas na adoção de medidores inteligentes e da smart grid. Isso significa substituir ou fazer um upgrade de vários equipamentos e instalar uma rede de comunicação fixa e móvel para coletar e transmitir os dados de forma online para o gerenciamento da concessionária.

Do lado do consumidor, não há segredo: as empresas de serviços públicos precisam aprender com Google e companhia como atender bem o usuário final. Há casos, dizem os consultores da McKinsey, em que uma concessionária automatizou seu back office, cortou seus custos de processos em 20% e ainda aumentou a satisfação dos clientes no atendimento. A conferir nos próximos anos.