“Big Brother” em transporte reduz custos na Transmagno

Por João Monteiro 06.07.2015 –

Sistema de telemetria proporciona economia de 750 litros de diesel em 18 meses para transportadora de cargas especiais.

Âncora de plataforma de extração de petróleo, mais parecida com míssil (foto: Transmagno)
Âncora de plataforma de extração de petróleo, mais parecida com míssil (foto: Transmagno)

Com 340 veículos na frota, incluindo caminhões, tratores, carretas extensíveis, bitrens e veículos de apoio, a transportadora de cargas especiais Transmagno tem um alto custo com combustível, manutenção e segurança. Para diminuir essa despesa, a empresa contratou a solução de telemetria da Mix Telematics, capaz de fornecer dados em tempo real da velocidade média, quilometragem, hora de motor utilizado, quantidade de CO2 (gás carbônico) expelido e localização do veículo, entre outros fatores. A solução adotada elevou o padrão de segurança da Transmagno e proporcionou economia de combustível. Como? Simples: reduzindo o tempo de motor ocioso com acompanhamento operacional em real time.

O Dynamix é uma pequena caixa, pouco maior que um celular. Sim, é um computador de bordo. Esse equipamento é conectado no barramento do caminhão e capta todas as informações necessárias, enviando via rede GSM (o 2G do celular) para o banco de dados da Mix, onde as informações são repassadas para a Transmagno. Alexandre Fagundes, gerente de Marketing da Mix Telematics, relata que isso ocorre devido ao aproveitamento da eletrônica embarcada dos veículos mais modernos, que enviam informações capitadas de sensores para o computador de bordo.

O coordenador de Logística da Transmagno, Roberto Nascimento, explica que a empresa trabalha com transporte de equipamentos usados em plataformas de extração de petróleo, com grande peso e volume. É o caso da âncora, utilizada para garantir que a estação não saia do lugar. Essa âncora, mais parecida com um míssil, pesa 80 toneladas e mede 18 metros de comprimento, sendo necessária uma carreta extensível para o transporte. Segundo Nascimento, quando o petróleo de uma plataforma acaba, todos os equipamentos são retirados e enviados à terra para armazenamento. Então a plataforma é movimentada e os equipamentos são transportados até ela.

“O veículo que faz esse tipo de transporte não pode exceder determinada velocidade, para não correr o risco avarias na âncora ou outro produto transportado. Por isso, utilizamos a telemetria em toda a frota, podendo acompanhar em tempo real cada ação do motorista”, afirma.

Um bom exemplo é quando o veículo ultrapassa a velocidade estipulada de 80 km/h, o máximo em que pode rodar. Nascimento diz que ao chegar aos 78 km/h, o computador de bordo emite um bip na cabine, para avisar ao motorista. Aos 82 km/h, o bip começa a ser direto e, caso o veículo não diminua a velocidade, a equipe de logística da Transmagno entra em contato com o condutor para verificar o que ocorre. “Nós não bloqueamos o veículo”, afirma.

Redução de custo
Toda a atividade irregular praticada pelo veículo é avisada através desse bip, como o caso do motor ocioso. Se o caminhão estiver ligado e parado por 15 minutos, o toque será disparado e se o motor não for desligado, a equipe da Transmagno entrará em contato cinco minutos depois. “Em cada hora de motor ocioso, são gastos 2,5 litros de combustível. Com a telemetria, reduzimos em 300 horas esse fator, ou seja, economizando 750 litros (ou R$ 2.100,00, considerando o valor de R$ 2,80 por litro)”, diz.

Outra preocupação era ter o controle de horas de trabalho dos motoristas. Segundo Fagundes, da Mix, com a nova Lei dos Caminhoneiros, que entrou em vigor em março de 2015, ficou mais complicado medir o horário de trabalho dessa categoria. Ele explica que o tempo máximo de direção do motorista é de até 5h30 seguidas, devendo haver períodos de descanso e não podendo ultrapassar o período de 12h de serviço por dia. “Nosso sistema avalia o horário que o trabalhador entra no serviço, a hora que o motor do caminhão entra em movimento e quando é desligado. A partir disso, cruzamos as informações e obtemos a carga horária de trabalho”, diz. Caso o motorista ultrapasse o horário permitido, o alarme da cabine começa a soar e a empresa entra em contato.

Não foi apenas o consumo de combustível que proporcionou economia com o uso da telemetria. Nascimento diz que nos transportes realizados para a Shell existia o fator de “quase acidente”, ocasionado pelo risco do motorista ultrapassar as velocidades permitidas, frear bruscamente ou fazer curvas fortes. Esse risco foi eliminado e os relatórios de fretes também são acessados pelo cliente da Transmagno, via computador ou smartphone. “O nosso padrão de segurança evoluiu drasticamente com o uso do Dynamix”, salienta Nascimento.

De acordo com ele, a expectativa é de que esse sistema possa ser usado como gestor de ativos, podendo medir a vida útil de pneus e freios, por exemplo, a longo e médio prazo. “Como usamos há pouco tempo essa tecnologia, apenas um ano e seis meses, ainda estamos em processos de estudo.” Para manutenção, a Transmagno prefere usar um ERP (sistema de gestão empresarial), gerindo as áreas administrativa, operacional e comercial.

Nascimento ainda prevê a expansão dessa tecnologia na Transmagno para as empilhadeiras da empresa.

Outras experiências
A Mix implanta esse sistema em outras áreas e equipamentos, como o setor de construção e de mineração. Na linha amarela de equipamentos para construção, por exemplo, onde as máquinas trabalham sobre regime de locação, é possível verificar quantas horas o equipamento foi utilizado e parado, facilitando, assim, a cobrança do serviço pelas locadoras. A telemetria também é capaz de gerir o funcionamento da máquina, verificando o modo como o usuário a utilizou e as falhas que cometeu.

Segundo Fagundes, a Mix foi fundada em 1995, na África do Sul, e começou a ofertar Software como Serviço (SaaS) no Brasil em 2007. Ele explica que a maioria dos clientes da empresa são oriundos do setor de cargas perigosas, como produtos químicos, e de cargas vivas, como animais, pois o objetivo desses clientes é obter maior segurança. “A partir de 2012 e 2013 apareceram clientes visando a produtividade, como empresas de transporte rodoviário”, diz.

Fagundes completa que algumas empresas de transporte pedem para filmar tanto o interior da cabine como a estrada, para que possa entender melhor o que aconteceu no caso de alguma anormalidade. Para isso, eles utilizam a rede 3G para passar informações. Em outros casos, quando o veículo trabalha em regiões sem sinal de celular, como na Amazônia, é necessário usar uma antena satelital para enviar as informações para a central.