Brasil pode ser uma potência em hidrogênio verde

Rodrigo Conceição Santos – 17.09.2021 –

O Brasil tem tudo para se tornar um dos players mundiais na produção de energia a partir do hidrogênio, em particular a do hidrogênio verde, ou seja, aquele cuja produção aconteça sem qualquer emissão de poluentes. Uma das fontes é a biomassa de rejeito ou de manejo, a partir da agroindústria, e o maior exemplo é a produção de cana de açúcar e álcool. Os rejeitos da produção de etanol somam milhões de toneladas por ano e parte dessa biomassa é usada atualmente em usinas térmicas para gerar energia elétrica. A outra destinação? Produção de hidrogênio. E mesmo se houver alguma emissão de CO2 nesse processo, ela não é grave, pois o CO2 não veio do subsolo.

Voltando um passo atrás: a energia gerada a partir do hidrogênio já existe e o uso do elemento ou de compostos dele é uma realidade. Podemos usá-lo para gerar eletricidade, abastecer veículos, equipamentos portáteis, etc. E já produzimos hidrogênio em larga escala. Porém, essa produção é majoritariamente do que chamamos de hidrogênio cinza, ou seja, aquele que gera emissão de carbono. Esse composto é usado em indústrias químicas, petroquímicas, alimentícias, siderúrgicas e outras. Para se produzir fertilizantes, por exemplo, precisa-se de muito hidrogênio. Atualmente, o mundo produz e utiliza cerca 100 milhões de toneladas de hidrogênio por ano e a perspectiva é que isso se multiplique por seis ou mais até 2050.

Hidrogênio verde, azul e cinza

O hidrogênio produzido com uso dos combustíveis fósseis, que é a maior parte atualmente, gera o dióxido de carbono (CO2). Se ele é emitido e não capturado, o hidrogênio resultante é o cinza. Há outro tipo de hidrogênio que também se produz de combustíveis fósseis, mas “sequestra” o dióxido de carbono e o reutiliza. Este é o hidrogênio azul. E ele vai ser muito importante na transição energética, até que cheguemos à produção do hidrogênio ideal, o verde, em larga escala. Atualmente, temos tecnologias para produzir, armazenar e transportar o hidrogênio verde, mas não as temos em larga escala.

Um caso real de aplicação em larga escala é o do hidrogênio azul em refinarias. Elas o usam em seu processo industrial e fazem isso através da reforma a vapor do gás natural. A captura do dióxido de carbono gerado na produção do hidrogênio a partir da reforma a vapor do gás natural permite que ele seja “reinjetado’ no poço para empurrar o petróleo durante o processo de extração. O CO2 reage com o solo e fica aprisionado nele. Esta é uma forma de “sequestrá-lo”. Há 14 grandes instalações de petróleo no mundo atualmente onde esse processo é realizado e uma delas está no Brasil, na Bacia de Santos.

Por falar em Brasil, a produção está apenas começando. O país pode ter, proporcionalmente, mais hidrogênio, devido à nossa matriz energética, com forte potencial para energias renováveis, e pelo uso da biomassa. Se pegarmos todos os elementos energéticos usados no mundo, o índice médio de energia renovável dentro da matriz é inferior a 15%, enquanto o nosso índice é superior a 40%. Como o hidrogênio verde precisa ser produzido com o uso de energias renováveis, temos grandes condições de assumir a dianteira mundial nesse mercado. E também ser exportadores dessa energia.

As iniciativas locais incluem soluções como as dos Portos de Pecém (CE) e do Açu (RJ) para produção de hidrogênio verde em larga escala e com projeções de abastecer tanto o mercado doméstico quanto para exportar. Institucionalmente, temos a Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2). O país também definiu as diretrizes do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), no início de agosto. Em outra frente, grandes empresas internacionais, que têm unidades empresariais no Brasil, começaram a se orientar para a energia do hidrogênio. Enfim, temos um círculo virtuoso e resta saber se, e como, vamos aproveitá-lo.