Câmeras, ação: é o que espera a segurança viária

citilog

Por Rodrigo Conceição Santos – 11.11.2016 –

Com detecção automática de incidentes, novas tecnologias de câmeras prometem revolucionar a gestão de tráfego urbano e a segurança em rodovias.

A identificação rápida de incêndios, veículos na contramão, animais atravessando a pista e outros incidentes promete ser o avanço da segurança viária e da gestão de tráfego brasileiros. E há mais de um motivo para a afirmativa. Começando pela resolução 3576, recém-publicada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que estabelece a necessidade de sistemas de Detecção Automática de Incidentes (DAI) nas novas concessões rodoviárias. É um exemplo do que aconteceu na Europa há anos, após o acidente do túnel Mont Blanc, entre a França e a Itália, que matou 39 pessoas em 1999 e que foi o grande responsável pela evolução dos sistemas de DAI mundialmente. Outro impulsionador é a população brasileira, que quer monitoramento por câmeras mais do que qualquer outra tecnologia para serviços de segurança pública, como apurou uma pesquisa recente do Datafolha com cerca de 2 mil pessoas.

Em entrevista exclusiva ao InfraROI, Anthony Jousselin, engenheiro de desenvolvimento de negócios da Citilog, é otimista com essas projeções e explica que a evolução dos sistemas de câmeras provê uma série de novos serviços voltados ao monitoramento e inteligência operacional.

“As tecnologias atuais permitem a instalação de microprocessadores de alta capacidade dentro das próprias câmeras. Assim, os equipamentos não só capitam as imagens, como ocorria com os sistemas antigos. Mas também são capazes de processar rapidamente se os movimentos condizem com a normalidade da operação”, diz ele.

Na prática, cada movimento fora do comum – como uma passagem horizontal numa pista, onde o fluxo é vertical – representa um perigo e isso não só gera um alarme sonoro e visual, como também é gravado.

A francesa Citilog empacotou essa tecnologia completa após ser adquirida pela sueca Axis Communications no início deste ano. As empresas já eram parceiras, segundo Jousselin, mas agora, integradas, melhoram a troca de expertises, tanto da tecnologia de câmera, genuinamente da Axis, quanto do sistema de DAI, da Citilog.

“Há poucos anos, as câmeras captavam as movimentações fora do comum e enviavam para um servidor fazer uma análise prévia e emitir os sinais necessários para a sala de controle do contratante. Isso exigia que tivéssemos um sistema de rede completo para atender a demanda da Citilog, o que encarecia o processo. Hoje, com processadores internos, as câmeras já fazem isso sozinhas e enviam a informação direto para as salas de controle”, diz Jousselin.
Contudo, ele admite que a qualidade da transmissão continua sendo uma exigência e as redes de telecomunicações podem representar um problema para alguns projetos.

Infra de telecom
As redes móveis (3G e 4G) não são confiáveis para esse tipo de transmissão e as implantações da tecnologia pela Citilog precisam das redes de fibra óptica.

“Em túneis, onde temos a maioria das nossas implantações de DAI, a infraestrutura de redes não costuma ser um problema”, diz ele. Todavia, para monitorar rodovias completas é preciso estar atento a isso. Mas ele acredita que por tempo determinado, pois a infraestrutura de telecomunicações melhora à medida que a tecnologia evolui, e a prova disso é que em poucos anos teremos o 5G, que eliminaria a discussão.

Operação prática
Quando ligadas em redes adequadas, as câmeras emitem um alarme e criam a imagem de uma seta vermelha apontando para o problema. Os operadores da sala de controle recebem a informação em tempo real, para a tomada de decisão necessária.

No Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, o sistema funciona dessa forma. Segundo Jousselin, lá, o tempo de socorro diminuiu 30% e é um benchmarking da Citilog para o mercado brasileiro. “Estávamos atentos para competir na implantação dessa mesma tecnologia – com aproximadamente 60 novas câmeras – em vários outros locais da cidade, mas a crise econômica paralisou os projetos”, diz o especialista.

Do outro lado da ponte da capital do Guanabara, em Niterói, o Túnel Charitas-Cafubá, parte da TransOceânica em construção, também está recebendo a solução. Com 1,3 km de extensão, ele deverá ter 15 câmeras instaladas e interligadas ao Centro Integrado de Segurança Pública da Cidade. A previsão é que a obra seja entregue ainda neste ano, sob um orçamento de R$ 310 milhões, provenientes em grande parte do governo federal.

Outras aplicações
A presença de processador dentro das câmeras rende também aplicações na inteligência de trânsito. Segundo Jousselin, as câmeras inteligentes substituem a instalação de laços magnéticos, usados nos sistemas de semáforos inteligentes tradicionalmente. “A manutenção é um problema para a administração pública. E esses laços magnéticos têm vida útil média de dois anos, o que é pouco. Por isso muitos semáforos inteligentes em grandes cidades brasileiras estão sem funcionar atualmente”, diz ele. “A vida útil das câmeras é maior”, compara.

A qualidade de identificar movimentos, diz ele, permite que as câmeras coordenem semáforos inteligentes e ainda sirvam como tecnologia de segurança pública, identificando movimentos de vandalismo, acidentes de carros, etc. “Para medir a efetividade para o tráfego de grandes cidades, é preciso ter uma instalação completa. Não temos isso no Brasil ainda, para quantificar. Mas em Paris, onde temos uma instalação ampla, estimamos a melhoria do tráfego em 30%”, conclui.