Empreiteiras contrabalançam o mercado de guindastes no primeiro semestre

Em entrevista exclusiva ao InfraROI, Luciano Dias, vice-presidente de vendas da Manitowoc para a América Latina, mostra como tem se comportado o mercado brasileiro de guindastes nos últimos meses.

Por Rodrigo Conceição Santos – 10.08.2015

Foto do Linkedin
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Nas últimas décadas, as locadoras foram as grandes consumidoras de guindastes no Brasil, chegando a responder por cerca de 80% do mercado. Os usuários finais (geralmente empreiteiras), consumiam a fatia restante. Neste ano, o cenário está inverso, como relata Luciano Dias, vice-presidente de vendas da Manitowoc, nesta entrevista. E isso não ocorre porque as empreiteiras estão comprando mais. Na verdade, elas estão comprando o mesmo volume, mas as vendas das locadoras é que não param de cair, desde o último trimestre de 2013. No ano passado, isso foi demonstrado em números pelo estudo da Sobratema, que registrou a venda de 290 guindastes no país. Esse volume é quase 50% menor que o vendido em 2013 e o estudo inclui equipamentos sobre rodas e sobre esteiras de todos os tipos, exceto guindautos.

Então as vendas foram ruins no primeiro semestre?
Luciano Dias – Sim, e as poucas realizadas foram destinadas, em grande parte, aos consumidores finais. Aliás, a cada ano as vendas para usuários finais aumentam em relação às locadoras que, historicamente, foram responsáveis por cerca de 80% do consumo de guindastes no Brasil nas últimas duas décadas. Essa inversão (neste ano, as vendas para usuários finais que responderam por 80% das comercializações da Manitowoc no Brasil) é decorrente do momento econômico do país, que fez com que os locadores baixassem a taxa de ocupação de sua frota, mantendo o pátio cheio e, portanto, sem a necessidade de adquirir máquinas novas. Além disso, os locadores estão sofrendo com alto nível de inadimplência. Então, mesmo as empresas que conseguem manter uma boa taxa de ocupação da frota, não têm a mesma rentabilidade. Afinal, não adianta ter o equipamento locado e não receber pelo serviço.

Mas o volume de vendas para usuários finais cresceu ou se manteve?
Luciano Dias: Manteve-se. É bom explicar isso: não é que aumentamos as vendas para usuários finais. Elas ocorrem no mesmo volume de anos anteriores. Acontece é que as vendas para locadores é que despencaram, fazendo com que essa proporcionalidade fosse invertida, como comentei.

Você falou que as locadoras estão trabalhando com baixo índice de ocupação da frota. Isso explica as poucas vendas para esse nicho?
Luciano Dias: Sim. Para as locadoras, a taxa de utilização requerida para assegurar boa lucratividade é de 80% a 85% da frota. Esse é um volume bom até para que haja uma margem de equipamentos em pátio para atender ao mercado spot (contratos curtos), deixando de concentrar todo o negócio em contratos de longo prazo. Hoje, a maioria das empresas trabalha com taxa abaixo de 70%, o que, obviamente, compromete a lucratividade.

Esse resultado desfavorável para o mercado de guindastes tem um fator geopolítico, além de local, certo?
Luciano Dias: Sim. O valor do petróleo, quando os Estados Unidos começaram a “guerra do xisto”, caiu, e a exploração do pré-sal deixou de ser vantajosa. O mercado de óleo e gás é um dos que mais utiliza guindastes e, mais do que isso, é o setor que mais puxa empresas usuárias da tecnologia, como estaleiros. Esse é o cenário macroeconômico negativo, além da valorização do dólar, que encareceu os equipamentos. Por exemplo, um guindaste sobre esteiras que custava R$ 19 milhões em 2010, hoje custa R$ 34 milhões, simplesmente pela situação atual do câmbio. Com isso, a lucratividade do locador em cima do bem, que era de 4%, passa a ser de 1% e ele não consegue transferir essa elasticidade para o preço do contrato de locação. Por isso muitos investidores preferem deixar o dinheiro no Banco no lugar de arriscar ganhar 1% de lucro comprando uma máquina para alugar.

E a questão política e econômica local, tem qual representatividade nesse cenário?
Luciano Dias: Na questão política, pois as obras de refinaria – também grandes usuárias de guindastes – estão praticamente paralisadas em decorrência da operação Lava Jato. O que nos anima como fabricantes é saber que essa estagnação é temporária, pois estamos falando de obras que, cedo ou tarde, precisarão acontecer.

Você aposta em algum prazo para esses projetos serem retomados?
Luciano Dias – Como eu vinha dizendo, o país tem um potencial grande de investimentos, e eles vão acontecer. Mas, agora, acreditamos que demorarão um pouco mais. As empresas de bens de capital, como a Manitowoc (listada na Bolsa de Valores de Nova Iorque), terão sua operação brasileira estagnada pelo menos até o segundo semestre de 2016 e vão ter de entender a situação, criar formas de lucrar com outras iniciativas e tentar atender o mercado de exportação para ganhar esse fôlego.

Não é possível uma retomada mais rápida das obras, ao menos as ligadas ao setor de óleo e gás, tendo em vista que a Lava Jato está em fase avançada de investigação e há correntes influentes que sugerem até a leniência para as empresas envolvidas, de modo que elas retomem as obras?
Luciano Dias – O guindaste é um produto de valor agregado alto e que entra com mais ímpeto num momento final da construção, que é a montagem. Por isso, é o primeiro produto a sofrer quando há queda no volume de obras, pois a decisão de compra ou locação é adiada até o último instante. Por essas razões, os guindastes também são os últimos a sentir o efeito positivo quando há aquecimento de mercado. É por isso que temos como projeção otimista a retomada do volume de vendas a partir de meados de 2016.

Além do cenário comercial, há toda uma adequação de produção, principalmente em empresas com indústrias locais, como a Manitowoc em Passo Fundo (RS). Como equalizar isso?
Luciano Dias – Realmente. Depois de passadas todas as etapas comentadas para haver retomada das vendas de guindastes, o processo de decisão do comprador é rápido e ele ocorre quando a obra precisará do equipamento para 30 dias depois. Uma indústria não consegue acionar toda a cadeia de suprimentos e produzir esse tipo de máquina em tão pouco tempo. Para se ter ideia, um guindaste médio, de 200 toneladas, demora 40 dias só para ser montado, mas antes disso tem todo o acionamento da cadeia de peças, que envolve aços especiais e outros componentes específicos, processo que leva mais uns seis meses. Por isso precisamos ter uma reserva de produtos finalizados em estoque, e isso tem um custo. O que ajuda é a proximidade que temos com os clientes, algo que nos permite antecipar intenções e nos confere melhor poder de reação.