Falta de metrô em São Paulo reduz 3% o PIB do País

Por João Monteiro 14.09.2015 – 

Executivo da associação que realizou a 21ª Semana de Tecnologia Metroferroviária em São Paulo (SP) cita diversos estudos que viabilizam a implantação de trens para mobilidade urbana e transporte de carga e desabafa sobre necessidade de mais investimentos públicos e flexibilização de exigências para o setor.

Emiliano Stanislau Affonso Neto, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP) (foto: divulgação).
Emiliano Stanislau Affonso Neto, presidente da AEAMESP (foto: divulgação).

Para Emiliano Stanislau Affonso Neto, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), é consenso mundial a necessidade de maior mobilidade urbana para o avanço econômico das metrópoles. Citando dados de um estudo realizado pelo professor Eduardo Haddad, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), ele afirma que a falta de locomobilidade em São Paulo diminui em 3% o PIB do país e, se não houver mudança nos planos de investimento, a megalópole poderá entrar em colapso. “As cidades com problemas nesse setor encontram dificuldades para crescer, gerar novos postos de trabalho e, inclusive, manter os empregos já existentes”, diz.

Para Affonso Neto, a solução é investir em ferrovias, pois, segundo relatórios da Secretaria de Logística e Transporte do Estado de São Paulo divulgados entre 2005 e 2006, as principais rodovias que ligam a cidade ao resto do Estado entrarão em falência em 2025. “Hoje, você vê a Rodovia dos Bandeirantes, que conta com cinco faixas no trecho de Jundiaí para São Paulo, engarrafada no horário de pico”, contextualiza. Outro estudo, da CPTM, afirma que é viável a implantação de modais ferroviários ligando as cidades de Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba e Santos à capital paulista, trajetos que mobilizam cerca de 3 milhões de pessoas diariamente, segundo dados da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa). “A conclusão é simples: ou passamos a investir forte em ferrovias para transportar cargas e passageiros, ou nossa cidade entrará em colapso”, afirma.

O presidente da AEAMESP lembra que o Brasil já foi exemplo no uso de ferrovias, implantando as primeiras locomotivas já no século XIX, pouco tempo depois da Inglaterra. Porém, devido à vinda das grandes montadoras ao país a partir de 1950, houve maior incentivo ao uso do automóvel em detrimento aos trens, considerados como transporte de “baixa classe”.

Vieses

Outro problema é a carga legislatória infligida sobre o setor, que exige diversas adequações que atrasam e oneram as obras. Para Affonso Neto, o nível das condições impostas não é justificado: “não há clareza nessas exigências, cabendo ao técnico de inspeção decidir o que é certo e errado”, explica. O tempo de demora para aprovações das obras, que podem levar meses, também entra como fator dificultante na implantação dos trens.

Mas para o investimento em ferroviais se tornar real, ele afirma ser necessária vontade política, contando com participação dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal). “Essa força não deve mudar conforme os mandatos políticos, devendo permanecer independente do governante”, diz. “Estudos da FEA-USP de 2006 mostram que, a partir do momento que se implanta uma linha do metrô, o retorno econômico para o governo é de um volume maior do que o necessário para amortizar os investimentos”, justifica. Segundo Affonso Neto, foram esses estudos que mudaram a posição do governo do Estado de São Paulo em relação ao tema.