Linktel entre o dilema de rede óptica ou WLAN

Por Nelson Valêncio – 14.07.2017 –

Jonas Trunk
Jonas Trunk

Nessa entrevista, Jonas Trunk, presidente da operadora, é sincero ao destacar que a empresa está no momento de definição entre expandir a tecnologia de redes metropolitanas com base em rádio digital de alta frequência ou ampliar o uso de redes de fibra óptica de parceiros. Independente dessa área, a infraestrutura Wi-Fi da Linktel avança para setores inusitados, incluindo motéis. Nesse segmento, Trunk avalia que a operadora amplia a oferta de serviços de inteligência baseado em recursos de Big Data, refinando o perfil de usuários a partir de uma infraestrutura local de Wi-Fi mais robusta. Um exemplo de novos tempos é o Porto Maravilha, no centro do Rio de Janeiro, onde a operadora já contabilizou 350 mil acessos únicos.

InfraROI – Como a Linktel se posiciona hoje em termos de infraestrutura de rede?

Jonas Trunk (JT): Não somos uma operadora de telecomunicações que tem uma rede Wi-Fi. Temos uma rede wireless metropolitana (WLAN) com rádios em várias frequências licenciadas nas grandes cidades, incluindo São Paulo, Rio e Curitiba. Essa rede tem, como redundância, anéis em fibra óptica sendo que a maioria dos enlaces é de banda contratada usando a infraestrutura de outras operadoras. A rede WLAN opera em frequências que vão de 11 GHz a 36 GHz e apresentam um crescimento nos últimos anos. Há um incremento crescente de banda por usuário e nosso backbone tem atingindo seus limites, o que nos coloca num dilema: investir em maior capacidade de rede WLAN, trocando os enlaces, ou ampliar o uso de fibra óptica de terceiros, considerando o custo decrescente desse tipo de infraestrutura. O preço está caindo tanto que não sabemos se vale a pena investir em rádios digitais. Vai depender, entre outras coisas, da banda disponível no mercado. Em casos recentes fizemos a mudança do enlace de rádio em São Paulo. O que há hoje é uma rede complementar e híbrida de fibra óptica e de rádios digitais. A médio prazo a fibra avança e o rádio fica como redundante, entrando em operação em casos de emergência.

InfraROI – Mas também houve uma evolução na capacidade dos rádios…

JT: Sim. Os rádios que tinham uma capacidade de 300, 400 Mbps passaram a ter 1 Gbps, o que aumente o dilema de quem fica com a rede. No nosso caso há uma venda crescente de conteúdo e uma venda de infraestrutura Wi-Fi, que é uma rede secundária. O core business é mais importante do que ter um próprio backbone. A grande verdade é que para quem investiu e já implantou uma infraestrutura extensa, caso da Telefônica e Embratel, deter a rede é importante. É o mesmo caso de operadoras regionais como a Vogel e a Americanet, duas que aplicaram muito capital em uma infraestrutura óptica própria metropolitana nos últimos dois anos. Em São Paulo temos pelo menos seis grandes redes ópticas desse tipo, de forma que construir uma malha própria não faz sentido.

InfraROI – E a infraestrutura de Wi-Fi?

JT: Ela evolui para todos os lados. Fizemos um plano de negócios, em 2016, para expansão em aeroportos, shopping centers, hospitais e tivemos mercados novos como o de motéis e de restaurantes. Foi surpreendente. Em supermercados, o processo acontece desde redes grandes como o Carrefour até pequenos varejos. Em 95% dos contratos, a Linktel monta sua própria estrutura e somente em casos especiais – e sob análise – assumimos a infraestrutura já existente. Um exemplo foi o Albert Einstein, em São Paulo, mas o hospital já tinha uma rede com equipamentos muito bons e assumimos o processo. Em outras situações é necessário começar do zero, mesmo porque temos acordos, como o feito com a TIM, para uso do 3G combinado com o Wi-Fi para os assinantes deles.

InfraROI – E como vocês definem os parceiros de tecnologia para Wi-Fi?

JT: É uma questão de tecnologia e comercial. Tínhamos acordos com a Cisco e Ruckus e, recentemente, incluímos a Huawei e Aruba no rol de parceiros. O processo de escolha envolve precificação e recursos de segurança. Temos a única rede na América Latina de excelência em segurança encriptada, das cinco ou seis desse tipo existentes no mundo. É raro o cliente opinar na escolha, uma vez que ele tem a nossa consultoria. Quem mais opina são as operadoras, visto a necessidade de integração das redes delas com a malha Wi-Fi. A Infraero (contrato que a Linktel administra) fez uma licitação que orientava a escolha para fabricantes mais qualificados. Dos 60 aeroportos contratados, já implantamos a rede em 20, os quais representam 90% do tráfego. Os outros 40 terminais estão sendo instalados.

InfraROI – A oferta em muitos casos não é apenas o acesso à banda larga, mas o conhecimento do usuário…

JT: Exato. O monitoramento gera um Big Data do perfil do usuário, incluindo o mapa do calor, o qual detalha as regiões de trânsito do cliente dentro do supermercado, por exemplo. Mas para chegar a esses dados refinados é preciso investir em melhorar a cobertura da rede Wi-Fi, ampliando a precisão do monitoramento. Para tanto, fazemos um site survey que identifica a melhor cobertura, ou seja, quantos mais pontos de acesso (AP) podem ser ativados e em que raio. Há uma incorporadora que delimitou o raio para 8 ou 9 metros, com a coleta de dados mais precisos do cliente que frequenta seus empreendimentos. Os dados, evidentemente, pertencem somente ao empreendimento, não podem ser transacionados. Por outro lado, fazemos o cruzamento de informações – para o administrador da rede – com informações de redes sociais, agregando mais inteligência ao processo.

InfraROI – E o projeto do Porto Maravilha, no Rio? Como a Linktel assumiu essa infraestrutura?

JT: Ele foi pensando desde o inicio como um ponto estratégico da cidade, replicando iniciativas como a do Porto Madero, em Buenos Aires. Assumimos a infraestrutura em função da parceria com a Otima, empresa responsável pelo acesso Wi-Fi e pela publicidade. O projeto funciona tanto para quem é assinante da Linktel como para quem tem um acesso temporário, similar ao dos aeroportos. Já contabilizamos mais de 350 mil acessos na rede Wi-Fi instalada lá no Porto Maravilha.