Microfresagem: Brasil usa pouco as técnicas existentes para melhorar pavimentos

Por Rodrigo Conceição Santos – 15.07.2015 – 

Assim como o micropavimeto, a microfresagem pode dar acabamento superficial de primeira linha às rodovias que apresentam pouca aderência pneu-pista. Mas técnica ainda é pouco utilizada no país.

Microfresagem na Rodovia Raposo Tavares (Foto: Ciber)
Microfresagem na Rodovia Raposo Tavares (Foto: Ciber)

A Ciber – pertencente ao Grupo alemão Wirtgen – estima que cerca de 100 fresadoras de asfalto são vendidas ao ano no Brasil. Desse total, não mais de cinco unidades são equipadas com tambores de microfresagem. O que isso significa? Simples: há poucas fresadoras capazes de dar acabamento final às pistas e melhorar as condições de tráfego das rodovias que estão em boa parte depauperadas, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Seu relatório mais recente mostra que 45%, de 98 mil km de rodovias avaliadas, está degradada.

Assim como o micropavimento – abordado pelo InfraROI na semana passada (veja neste link) – a microfresagem é uma técnica para aprimorar o acabamento da capa asfáltica, melhorando a experiência de tráfego dos motoristas e reduzindo esse índice da CNT. “O melhor exemplo dessa aplicação ocorreu no Sambódromo de São Paulo em 2010, quando ele foi preparado para receber a Fórmula Indy”, lembra Marcelo Zubaran, especialista de produtos e engenheiro de aplicação da Ciber. Ele completa que as concessionárias de rodovias foram grandes usuárias da tecnologia também, mas atualmente o mercado está estagnado, esperando resultados melhores no segundo semestre.

Juliano Gewehr, também especialista de produtos e engenheiro de aplicação da Ciber, explica que muitas obras no Brasil são realizadas de maneira incorreta, inclusive com liberação parcial do tráfego sobre a pista que recebeu fresagem convencional. Ele explica que fresagem padrão tem distanciamento de 1,5 cm entre os sulcos e chega a profundidade de até 15 cm, o que a torna adequada para corrigir questões estruturais do pavimento, mas não para dar o acabamento final a ele. “Na microfresagem, o distanciamento entre os sulcos é de 6 mm, proporcionando ótima experiência de tráfego. Por isso ela é usada como técnica de acabamento final nos pavimentos”, completa.

Gewehr reforça que a microfresagem, assim como o micropavimento, não têm relação estrutural. Ou seja, não aumenta a capacidade de suporte da rodovia. Mas ambas as soluções têm sua importância ao garantir melhor condição de tráfego e, assim, prover segurança e conforto, segundo ele. “Por isso essas técnicas são muito indicadas em pavimentos que apresentam trincas superficiais”, concatena.

Equipamentos
Para esclarecer a diferença entre a fresagem convencional e a microfresagem, Marcelo Zubaran detalha que a máquina portadora (fresadora) é a mesma e a diferença está no tambor de fresagem adotado. Antes, ele lembra que há um terceiro tipo de tambor, que realiza a fresagem fina. “Começando pela fresagem convencional, falamos de tambores de 162 bits (dentes de corte), com espaçamento de 1,5 cm entre eles”, diz, lembrando que o espaçamento entre os bits é exatamente o tamanho dos sulcos que serão formados no asfalto.

No tambor para fresagem fina – técnica que também não é indicada para acabamento final nas vias, mas que geralmente antecede uma camada de micropavimento, o que confere resultado final de primeira linha também – são 274 bits e o espaçamento entre eles é de 8 mm. “O tambor de microfresagem tem 740 bits, com espaçamento de 6 mm e profundidade máxima de 3 cm”, diz.

Caso de sucesso
No ano passado, a Ciber relatou que a Rodovia Raposo Tavares, entre Sorocaba e Araçoiaba da Serra, tinha o revestimento asfáltico com danos menores ou maiores em vários pontos, de forma que a aderência necessária entre pneu-pista não estava adequada. A microfresagem foi a solução adotada pela CCR ViaOeste, que contratou a Fremix Engenharia para recuperação da área geral de 154 mil metros quadrados de vias, com largura de 3,40 metros.

A Fremix usou a fresadora Wirtgen W 200, com tambor de microfresagem, com 672 bits. “Com a tecnologia, fresamos ranhuras de 6 mm de distância entre os dentes de corte, com espessura de corte de 2 a 20 mm”, explica José Marques Pereira, coordenador da equipe de fresagem da Fremix. “Com isso, obtivemos em um só processo uma estrutura de superfície fina que cumpre todos os requisitos de uma pista aderente e, durante os trabalhos, o trânsito pôde continuar fluindo na pista ao lado”, completa, salientando que logo após a microfresagem a pista foi completamente liberada para o tráfego.