Muito além da rede física: Accedian mostra como as operadoras podem monitorar serviços

Nelson Valêncio – 04.11.2019 –

Empresa aumenta em 50% sua estrutura de profissionais no Brasil e destaca certificação internacional da Telefônica, que validou a tecnologia da companhia para seu projeto de virtualização de rede 

O crescimento da Accedian no Brasil, que se autodefine como “líder em soluções de análises de performance e experiência do usuário”, pode ser medido de várias formas. O número de profissionais, por exemplo, foi aumentado em 50%. A empresa também ganhou espaço em seus clientes locais, inclusive com ampliação do portfólio até mesmo para análise da resiliência da rede física, um trabalho inédito em andamento numa das grandes operadoras de telefonia móvel locais. O avanço para o universo dos provedores regionais de médio porte é outro dado. Mas, para mim, que conheci a empresa no ano passado, o indicador é também linguístico: a Accedian fala mais português.

A conversa na Futurecom, encerrada na semana passada, envolveu Carlos Brito, vice-presidente e gerente geral para a região da América Latina e Caribe, e Fábio Andreas Fernandes, o gerente geral para o Brasil. Ambos têm muita experiência em telecomunicações. Brito foi presidente da Nortel e Fernandes transitou de operadoras como Telefônica e Claro até players importantes do setor como Ericsson e Alcatel-Lucent. Em comum, os dois falam a língua que mais interessa às operadoras nesse momento, ou seja, como entender o idioma dos elementos de rede, dos equipamentos instalados em todo de infraestrutura – móvel ou fixa – e transformar isso em informação que antecipe problemas.

De acordo com Brito e Fernandes, a coleta, correlação e interpretação dos dados permite que as operadoras transformem seus centros de operação de rede, os tradicionais NOCs, da sigla em inglês, para SOCs, com o S de serviços. A infraestrutura física continua importante, mas o nível de informação não se restringe à camada física da rede. Isso se consegue porque empresas como a Accedian usam plataformas avançadas de Big Data e Analytics para antecipar gargalos no cliente de seus clientes. Explicando melhor: o especialista do SOC vê a rede com muito mais detalhes e pode diagnosticar que o tráfego lento na corporação Y, cliente da operadora A, não é um problema de capacidade do cabo óptico que chega até o usuário e sim o mal gerenciamento do tráfego nos servidores.

Nem é preciso mais um hardware para coletar dados na rede 

Grosso modo, seria como dizer que a operadora – a partir do microdetalhe – ganha uma visibilidade macro. Mas nada de complicações: a ideia é oferecer aos profissionais do SOC um dashboard gráfico, amigável e intuitivo. Por trás dos infográficos, porém, há pelo menos dois fatores que precisam ser considerados. Primeiro, a coleta de dados porque sem eles não há informação a respeito do desempenho da rede. E, segundo, o que fazer com um volume cada vez maior de dados? Aplicar os recursos de Analytics que, no caso da Accedian, foram turbinados com sua plataforma Skylight, cuja capacidade permite a avaliação das camadas de 2 a 7, responde a segunda questão.

Em relação à coleta de dados, a virtualização é a grande aposta da Accedian. O processo seria a evolução natural de um sistema que primeiro envolvia “caixas” instaladas de fato nos equipamentos de rede das operadoras, algo como um CPE, que é o aparelho que vemos na casa dos assinantes. Eram – e são em muitos casos – uma espécie de sonda, de sensor, que recolhe os dados sobre desempenho da rede e envia para um depositário geral. Da caixinha, a evolução natural foi o SFP, sigla para small form-factor pluggable transceptor, um transceptor compacto e plugável para fazer o mesmo que a “caixinha” ou hardware anterior. Trata-se de um padrão no mercado, mas a Accedian investiu na inteligência do dispositivo.

De acordo com Fernandes, em muitos casos, convive-se com os dois cenários de hardware de coleta, principalmente nas redes fixas. Na infraestrutura das operadoras móveis, no entanto, ambos estão sendo dispensados. Explicando: o próprio elemento de rede permite que os dados sobre o seu desempenho sejam capturados por meio de um protocolo comum, uma linguagem de nome curto – TWAMP – o protocolo de monitoramento ativo bidirecional. Todos os players trabalham com ele em seus novos equipamentos, permitindo que empresas como a Accedian não precisem nem mais plugar os pequenos SFPs inteligentes nos equipamentos de campo. Isso vale para as redes fixas novas também.

Atendimento aos provedores regionais também explica aumento da empresa no país 

Aqui, podemos resumir a história. Diferentemente de outras companhias, a Accedian não teria concorrentes porque ataca nas várias frentes desse ecossistema: coleta dados de vários modos, inclusive o virtual, analisa um volume grande, correlacionando e criando uma politica preditiva de identificação de falhas. De acordo com Brito, nem mesmo os dados de dispositivos de mão usados para teste de rede, caso dos OTDRs, ficam de fora dessa arena de análise. Embora fabricantes do setor tenham seus próprios recursos de Analytics, a Accedian também já está usando a informação dentro de sua plataforma em casos reais na Europa.

No Brasil, segundo Fernandes, a companhia amplia seu espaço com recursos que analisam o desempenho de serviços e não somente mais da rede e ainda novidades como a avaliação a respeito da resiliência da rede física. A ampliação também acontece na vertical de provedores regionais, outro nicho que justifica o aumento de 50% no número de profissionais citado no começo da matéria. Para ele, os KPIs – ou indicadores chave de desempenho – não devem mudar, mas o que muda é a velocidade de captura de dados e sua interpretação para que as operadoras tenham uma infraestrutura não só conectada, mas cujo serviço esteja de fato sendo entregue. “Conectividade nem sempre significa que o serviço esteja ativo, o que vai ficar ainda mais patente nas redes 5G”, finaliza.