Construtora registra última receita equivalente de R$ 558 milhões em 2016, retomando protagonismo entre as maiores do país e usando a experiência de quem atravessou crises e bonanças para manter o crescimento.
Por Rodrigo Conceição Santos (Especial para a Revista Brasil Construção) – 27.04.2018 –
O presidente e fundador da Método, Hugo Marques Rosa, levanta algumas vezes da mesa de entrevista. Procura os assistentes. Retorna à mesa. Volta para a entrevista e tem que sair novamente. Tudo em um grande escritório de vão livre, onde todos observam o que todos fazem. O presidente também vê e é visto. “Nosso escritório traduz o exemplo de transparência”, diz o profissional de marketing que acompanhava a conversa. Quando volta, o executivo se desculpa pela ausência inevitável e que iria se repetir nos próximos minutos. A razão? Era o dia da assinatura do contrato para as obras da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Comperj. “Eu aqui, os chineses na China e eles (Petrobras) no Rio de Janeiro. Assinatura eletrônica do contrato: novidade para mim (risos)”, diz Rosa.
A Método foi convidada pela Shandong Kerui – vencedora da licitação – para estabelecer uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). A chinesa venceu entre 34 empresas convidadas – todas internacionais – e quatro consórcios que apresentaram propostas. Segundo a Petrobras, não houve convite a empresas nacionais porque as grandes companhias, que atenderiam os critérios financeiros impostos, estavam impedidas pela Operação Lava Jato.
A Kerui Metodo Construção e Montagens, a denominação da SPE, oficializava, no momento desta entrevista, um contrato de R$ 1,95 bilhão. “É uma obra estratégica para o país”, define Rosa. Ele explica que o Brasil tem um grande número de termelétricas que precisam de gás. Há também as indústrias, que já reportam déficit nesse fornecimento. “No Paraná, se chegar uma empresa que precise de gás hoje, não terá”, diz. Além disso o acordo Brasil-Bolívia está perto de vencer (2019), o que ampliará o déficit. Isso explica, segundo o executivo, porque o propósito do Comperj mudou rapidamente de rota, privilegiando a produção de gás em detrimento do refino de petróleo, que seria o primeiro empreendimento retomado no complexo petroquímico.
A UPGN consiste numa obra de 40 meses, com dois trens de processamento de gás, incluindo execução e comissionamento. O primeiro trem ficará pronto bem antes dos 40 meses, até porque há partes da obra já iniciadas. “Estimamos que 30% já esteja concluída”, pontua Rosa. O avanço ocorreu no contrato anterior, liderado pela construtora Queiroz Galvão, que desistiu da obra após implicações da Lava Jato que levaram à redução no valor do contrato.
O projeto é uma das três grandes obras que a Método trabalha atualmente. Se bem-sucedidas, elas devem coroar os 45 anos de fundação da empresa com crescimento. As outras duas são o Aeroporto de Fortaleza e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Stihl Ferramentas Motorizadas, no Rio Grande do Sul.
Um pouco sobre Hugo Marques Rosa
Crescimento aos 45 anos
Para falar da trajetória da empresa, Rosa é detalhista. Começa do começo, quando o propósito era fundar uma construtora com práticas da indústria e melhores relações com o capital humano no canteiro de obras. “Se existiu um tempo no qual alguém deveria fundar uma construtora no Brasil, foi maio de 1973”, lembra.
Era o auge do Milagre Econômico. A construção civil crescia a 15%, a dívida externa era baixa e a inflação, indexada a 12%. O valor do dólar também estava pré-definido e isso tudo criava um cenário de estabilidade. O presidente de então, Médici, acreditava que o Brasil era uma “ilha da prosperidade”, definição mais tarde descartada por vários críticos do modelo.
Já em outubro de 1973 os problemas começaram com o segundo choque do petróleo, desencadeado pelos conflitos no Oriente Médio, que quase quadruplicou o preço do barril. O Brasil, que pela estabilidade econômica acreditava estar à margem da crise, manteve o consumo de petróleo enquanto a Europa e o Japão, por exemplo, se adequaram aos novos tempos.
Pelos projetos de grandes construções de infraestrutura, o governo militar estimulou as estatais a se endividarem para importar nos anos seguintes, abrindo o mercado que até então era bastante fechado. Isso ficou ingerenciável e o país precisou recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs uma série de medidas restritivas para ajustar as contas públicas no fim dos anos 1970. O país ficou então sem capacidade de investimento e com alto endividamento. “Hoje nós sabemos que quando o governo reduz investimento público, a construção é sempre a principal afetada”, diz Rosa.
E não foi diferente naquela época. Ele lembra desse momento da história para explicar a dificuldade financeira enfrentada pela Método em 1982, quando o agravante pelos anos exigentes do final da década anterior ocorreu nas obras do Centro Cultural de São Paulo. “Havia 1,7 mil homens trabalhando lá e a prefeitura simplesmente mandou parar a obra”, diz. “Ficamos sem receber e esse dinheiro virou precatórios que até hoje lutamos para reaver”, completa.
O resultado prático de 1982 foi que a Método começou o ano com 3,5 mil funcionários e terminou com 700. O faturamento, fechado em US$ 4 milhões no ano anterior, foi a US$ 1 milhão (80% de queda). “Enfim, como é comum na volatilidade brasileira, podemos resumir que tivemos uma ascenção em 1970, queda em 1980 e retomada em 1990”, diz.
Retomada na terceira década
O primeiro período pós-ditadura militar foi positivo para a Método, que já havia decidido pela segunda vez não trabalhar com obras públicas. A Método tinha forte presença na mídia, o que lhe deu grande visibilidade, e, apesar de ser uma empresa média, tinha status de grande. “Era preciso aproveitar esse momento e entendemos que isso se faria diversificando negócios, para sentir menos as futuras volatilidades do país. Foi aí que cometemos um erro: diversificando demais”, lembra Hugo Rosa.
A primeira ação foi internacionalizar. Firmou parceria com uma companhia norte-americana para entrar no ramo de telecomunicações. Também trouxe a incorporadora Tishman Speyer, com quem fez obras emblemáticas como a Torre Norte do Centro Empresarial Nações Unidas e o Rochaverá, em São Paulo, além do Ventura Towers, que hoje é alvo de uma disputa entre o BNDES e a Petrobrás no Rio de Janeiro.
Na mesma época a Método expandiu para o Cone Sul (Argentina, Chile e Uruguai) e trouxe o conceito de dry wall. Associou-se à Brascan (atual Brookfield), incorporadora imobiliária. Construiu, inclusive, o prédio Brascan Century Plaza em São Paulo. “Em 1995, aceitei o convite do então governador Mário Covas para assumir a Secretária de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo, o que me obrigou a ausentar da empresa por um período”. “Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo”, lembra.
A Método, que estava sólida financeiramente, precisou “alavancar”. E aí veio a crise monetária do Sudeste Asiático em 1997, seguida da crise Russa de 1998, travando o mercado financeiro e gerando problemas de caixa que levaram ao desfazimento de parte dos negócios.
O foco na construção civil foi mantido e a Método pôde experimentar outro período de crescimento entre 1998 e 2002, quando alcançou a sétima colocação no ranking das maiores empresas de engenharia da Revista O Empreiteiro. “Daí em diante, percebemos que sempre havia acima de nós as construtoras de obras públicas”, pontua. Essa percepção, mais tarde, levou à associação – seguida de aquisição total – da Potencial Engenharia, especializada em obras eletromecânicas, com atuação forte em petróleo e gás e base para a atuação na atual obra do Comperj.
A aquisição da Potencial Engenharia começou em 2009 e terminou cinco anos depois. “Era uma empresa de construção civil e uma montadora de obras eletromecânicas. Com culturas e estratégias diferentes”, explica Hugo Rosa. A adequação levou cerca de dois anos até ambas tornarem-se uma só empresa.
Um pouco antes, em 2004, a Método desfez a parceria com a Tishman Speyer, que decidiu se tornar incorporadora no Brasil. “Como já tínhamos feito incorporação no passado e não fomos bem-sucedidos, decidimos romper”, diz o executivo. Foi a mesma época que Hugo Rosa e Victor Foroni desfizeram a sociedade.
DNA industrial
Tanto Hugo quanto Victor são engenheiros mecânicos, formados pela Universidade de São Paulo (USP). A Método, inclusive, nasceu ainda na universidade, quando eles apostaram que era possível levar práticas da indústria para os canteiros de obras, criando metodologias. Daí o nome da empresa.
“Fundamos a Método com dois propósitos, que depois ficaram claros e impressos na trajetória da empresa. O primeiro foi trazer práticas da indústria para a construção e o segundo foi melhorar as relações de trabalho no canteiro de obras”, diz Hugo Rosa.
Esses conceitos foram solidificados anos depois, com experiências práticas como a utilização de painéis de ferro e cimento para construção de casas populares, trazidos ao Brasil pela empresa em 1978 e utilizados na construção de mais de mil casas para a Cohab nos anos 1980.
A engenharia brasileira não é lá tudo isso, mostra Hugo Marques Rosa
Anos depois os sócios decidiram estruturar a inovação, criando uma empresa de pesquisa e desenvolvimento para fomentar as novidades na construtora. Estipularam que cada ação de melhoria deveria ser um projeto à parte. Os resultados melhoraram, até que receberam convite de uma empresa canadense para serem parceiros no Brasil.
A parceria era para aplicar novas tecnologias relacionadas às construções secas e industrializadas. “Entendemos que tudo que se pode fazer fora do canteiro é melhor. O canteiro de obras tem uma dinâmica complicada, com espaços confinados, grandes possibilidades de geração de resíduos, operários com nível educacional e de treinamento baixo, etc.”, explica Rosa. Na indústria, compara ele, há uma equipe mais constante e metodologias estabelecidas, que conferem qualidade padrão.
Sobre as construções secas, algo que entrou em evidência no Brasil nos últimos anos, mas que ele assegura ter sido a Método a pioneira no anos 1990, a regra era simples: evite ao máximo a produção de argamassa no canteiro. “É um trabalho praticamente artesanal, que gera patologias, é lento e faz sujeira”, resume ele. Em termos práticos, o foco eram as estruturas de concreto pré-fabricados, com as quais era possível aplicar o conceito de off site constructions, transformando os canteiros em linhas de montagem. “Adequamos a isso o sistema horizontal e vertical (os pavimentos vão ficando praticamente prontos enquanto a construção bruta continua para cima) para a execução das estruturas”, completa.
Na mesma época a Método trouxe os pré-moldados arquitetônicos de fachada, montando a fábrica da Stamp. “Importamos o projeto, produzimos fôrmas e cimbramentos e começamos a usar nas nossas construções e a fornecer para outras construtoras. A solução de fachadas é diferenciada até hoje e a prova disso é a obra do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Stihl, que construímos atualmente com a fachada de tijolinhos mecânicos”, diz o empresário.
Mão de obra no canteiro
O segundo propósito de fundação da empresa, melhorar a relação de trabalho na construção civil, deu bons resultados. A Método inovou ao uniformizar os trabalhadores da construção civil, levando a eles autoestima à medida que se sentiam equiparados aos trabalhadores da indústria.
“Naquela época, a informalidade na construção civil era grande. E é preciso entender o contexto para saber como mudamos essa relação no segmento”, diz. Ele contextualiza que o Brasil teve uma urbanização acelerada no século XX, passando a população urbana de 60% para 80%. Esses camponeses eram analfabetos, em sua maioria, o que não lhes dava condições de trabalhar em indústrias ou comércio. Em resumo, a construção civil era a entrada para o mercado de trabalho urbano.
“As relações de trabalho nos anos 1970 eram uma extensão da Casa Grande e Senzala (livro do sociólogo Roberto Freyre)”, diz o executivo. “Imperavam o autoritarismo, a informalidade e quase nenhuma preocupação com a segurança do trabalho”, salienta.
Hoje, a Método tem cerca de 4 mil funcionários e afirma manter programas de incentivos, treinamentos e especialização para que a maior parte engaje além do atendimento a determinada obra.
Inovações
Nos últimos anos a construtora criou outros negócios e conceitos. Um deles foi começar a entrar na fase de projeto das obras, mudando a relação do cliente com a construtora. Hugo Rosa explica que, geralmente, as construtoras recebem o projeto e executam. “O ideal é atuarmos da pré-construção até o fim da obra, o que envolve um ciclo básico de concepção, detalhamento, execução e controle de entrega para a operação”, diz o executivo.
“Geralmente as construtoras atuam na execução e controle e isso causa muitos problemas e custos para o cliente, pois, na dinâmica da obra, não há tempo para a equipe executora pensar se o projeto é o melhor ou não. Isso tem de ser feito antes”, completa.
Obra de CPD da Stihl tem detalhes finos nos painéis arquitetônicos
Na fase de pré-construção, defende ele, o uso de tecnologias avançadas permite reduzir o uso de aço, concreto e materiais no geral. “Na obra da Stihl, por exemplo, fizemos o projeto em seis dimensões (6D), pois trata-se de uma obra com muitas instalações, cujos kits de montagem, sejam de construção civil ou eletromecânica, precisam chegar perfeitos para a aplicação”, diz Hugo Rosa, salientando que a estrutura da edificação é em pré-fabricado de concreto.
Outra característica no projeto da Stihl são as fichas de verificação do sistema de qualidade, feitas pelo smartphone do engenheiro, em campo. Isso é possível pela personalização de uma série de softwares cujo avanço está acima da capacidade das redes de transmissão de dados. A informação só não é transmitida em tempo real porque o arquivo é grande e as redes de dados de celulares não dão conta. Ela é então depositada nos computadores da obra e enviada para a nuvem semanalmente. “Em campo, quando está tudo em conformidade, o engenheiro aprova o avanço físico no cronograma da obra com um clique”, finaliza Rosa.