Teste mostra que Grã-Bretanha consegue ficar sem energia movida a carvão

Redação – 13.05.2019 –

Pela primeira vez na história o sistema elétrico da Grã-Bretanha operou por mais de sete dias sem a necessidade de acionar usinas termelétricas que usam o combustível fóssil

O recorde foi atingido na quarta-feira passada (08/5), de acordo com o National Grid Electricity System Operator (ESO), responsável pela gestão da rede britânica de geração e distribuição elétrica. “Ainda que esta tenha sido a primeira vez que tivemos uma operação contínua sem o uso de carvão, esperamos que esse tipo de episódio torne-se o ‘novo normal'”, ressaltou Fintan Slye, diretor do ESO. De acordo com Slye, à medida que mais combustíveis renováveis entrem na matriz elétrica britânica, as operações sem carvão serão mais frequentes. Ele avalia que até 2025, todo o sistema elétrico da Grã-Bretanha vai operar com zero carbono.

O uso do carvão como combustível foi fundamental para o processo de industrialização na Grã-Bretanha em meados do século XIX, que marcou o modelo de desenvolvimento industrial que se proliferou pelo mundo no século seguinte. As minas de carvão fazem parte da história britânica, com episódios políticos e sociais marcantes do país associados a esse combustível, como as greves de 1984-1985 contra o governo da então primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990).

Para Greg Clark, secretário de negócios e energia do Reino Unido, o feito de passar uma semana sem o uso de carvão para geração elétrica desde a Revolução Industrial sinaliza o compromisso britânico com o combate à mudança do clima e pelo crescimento econômico limpo e verde. “Queremos continuar batendo recordes, e é por isso que estruturamos nosso setor de energia renovável para que ele prospere. Estamos agora em um caminho para nos tornarmos a primeira grande economia a promover emissões líquidas zero”, aponta Clark.

Assim, o feito obtido pelos britânicos na última semana na geração elétrica livre de carvão representa não apenas um avanço no uso de fontes mais limpas de energia, mas uma mudança de paradigma dentro do modelo industrial do país.

Mudanças na matriz permitem redução do uso de carvão 

“Para que pudéssemos ter esse desempenho significativo, trabalhamos ativamente com a indústria ao longo dos últimos anos para reduzir a dependência industrial e elétrica com relação ao carvão”, ressalta Slye. “Estamos programando o fechamento de usinas de carvão e reduzindo a operação das que se mantêm para dar espaço a fontes mais limpas. As empresas responsáveis pela transmissão também estão investindo na modernização da rede, de maneira a garantir uma operação segura e contínua, sem desperdício energético”.

Esse recorde enterra a noção de que os combustíveis mais poluentes são imprescindíveis para a geração elétrica, ressalta Jonathan Marshall, médico e chefe de análise da Energy and Climate Intelligence Unit (ECIU). “Reduzir carbono não reduz a possibilidade de geração elétrica nem a disponibilidade na rede, diferentemente do que alguns analistas mais antiquados temiam. Na verdade, o que estamos vendo é o contrário: a geração elétrica está aumentando e as emissões de carbono, diminuindo”.

O ESO se comprometeu a avançar na descarbonização da matriz elétrica britânica, identificando os sistemas, serviços e produtos necessários para operar uma rede de carbono zero e projetar os novos mercados competitivos necessários para obtê-los com mais eficiência. “Acreditamos que promover a concorrência acabará por levar a um melhor valor para os clientes. Os novos produtos e serviços ajudarão a reduzir o custo geral de operação do sistema, reduzindo os custos para os consumidores”, conclui Slye.