Ferrovias vão responder por 35% da matriz de transporte até 2035

Redação – 09.04.2021 –

Investimentos previstos somam R$ 31 bilhões e incluem a concessão da Fiol ontem na B3 em São Paulo

A Bahia Mineração (Bamin) venceu a licitação para o trecho 1 da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol) ontem na bolsa de valores B3 em São Paulo. Pagou a outorga de quase R$ 31 milhões e assume agora a conclusão da obra da Fiol, onde vai investir R$ 1,6 bilhão. O valor total de investimento chega a R$ 3,3 bilhões no período de concessão. A ferrovia é parte do projeto mina-ferrovia-porto da mineradora, que hoje produz 1 milhão de toneladas de minério de ferro por ano, movimentando o produto de Caetité até terminal privado de Enseada, no Recôncavo baiano, no caso de exportação. O minério é transportado por via rodoviária e por ferrovias de terceiros e também abastece o mercado interno.

Com a concessão do trecho 1 da Fiol, a Bamin avança no projeto de operar sua própria ferrovia, da qual ocupará 30% da capacidade, e na construção do Porto Sul, seu terminal privativo em Ilhéus. De acordo com Eduardo Ledsham, CEO da mineradora, os outros 70% de capacidade da futura ferrovia serão usados para escoamento da produção de agronegócios baianos e de outras movimentações. A operação completa das minas da Bamin tem capacidade para produção de 18 milhões de toneladas anuais de minério de ferro. Pela sua arquitetura de mina-ferrovia-porto, o projeto da Bamin lembra Carajás e vem sendo apontado como um dos vetores de desenvolvimento da Bahia para os próximos anos.

O leilão de ontem também sinaliza a pavimentação – desculpe o trocadilho – do setor ferroviário, que hoje responde por 20% do transporte de carga no país e deve saltar para 35% nos próximos 13 anos. De acordo com o Ministério da Infraestrutura (MInfra), parte desse salto acontece por meio do aporte de R$ 31 bilhões já confirmados até agora. “A gente vai começar a atingir o nível de transporte ferroviário de alguns países desenvolvidos”, explicou o ministro Tarcísio de Freitas em coletiva ontem.

O leilão da Fiol foi o segundo em dois anos depois de mais de uma década sem movimentação nesse sentido. Em 2019, o processo da Ferrovia Norte-Sul, na região central do Brasil, garantiu os primeiros R$ 2,7 bilhões de investimentos. Ao longo de 2020, o MInfra viabilizou as renovações antecipadas de contrato com a Rumo, pela Malha Paulista, com mais R$ 5,7 bi, e com a Vale, com mais R$ 8,2 bi pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) e R$ 8,8 bi com a Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM).

Além disso, o dispositivo de “investimento cruzado” permitiu que parte da outorga pela EFVM fosse utilizada para injetar R$ 2,7 bi de investimentos na implementação da Fico, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, entre Mato Grosso e Goiás.

Os próximos passos envolvem o avanço nas obras dos trechos 2 e 3 da FIOL e a construção da Fico. Na Fiol 2, entre Caetité e Barreiras, na Bahia, mais de 1 mil pessoas, com o apoio do Exército, trabalham no empreendimento de 485 quilômetros de extensão e que terá a contribuição da Vale no fornecimento de trilhos como parte do pagamento de outorga ao Governo Federal. “Uma obra que está andando em ritmo acelerado, com muita terraplanagem sendo feita, muita brita sendo produzida, dormentes sendo fabricados, e que vai ganhar corpo daqui pra frente”, explicou o ministro.

Já para a construção da Fiol 3, que terá 505 quilômetros de extensão, entre Barreiras (BA) e Figueirópolis (TO) – onde se conectará com a Ferrovia Norte-Sul -, Tarcísio Gomes de Freitas disse que os investimentos a serem feitos deverão vir da renovação de contrato da Ferrovia Centro Atlântica, atualmente em fase de estudos. Quanto à Fico, que será instalada entre Água Boa (MT) e Mara Rosa (GO) – onde também irá se unir a Ferrovia Norte-Sul -, a expectativa é de que as obras para os primeiros 40 quilômetros comecem no mês de maio.

“Com isso, a gente já se estimula a dar o próximo passo: a modelagem para essa concessão Fico-Fiol. Já fizemos alguns ensaios de viabilidade econômica, com o apoio do Banco Mundial, simulamos alguns cenários e o resultado foi muito revelador. Mostra que estamos indo na direção certa, que podemos ter um leilão bastante interessante juntando o segmento da Fico com os dois trechos da Fiol”, adiantou o ministro, abrindo a possibilidade do pleito ocorrer entre o final de 2022 e o início de 2023.

Outro projeto ferroviário prioritário do Ministério da Infraestrutura é a concessão da Ferrogrão, com mais de 900 quilômetros de extensão, entre o município de Sinop, no Mato Grosso, até o Porto de Miritituba, no Pará, viabilizando o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste pelo Arco Norte.