Por Rodrigo Conceição Santos – 10.11.2016
Com queda de 36,5% na linha amarela, setor repete o mal desempenho de 2015; Confiança do empresariado melhorou nos últimos meses, mas isso não foi refletido em negócios; Projeção para 2017 é de pequeno crescimento.
A Sobratema apresentou ontem os dados do seu estudo anual sobre o mercado brasileiro de equipamentos para construção e o resultado é que o setor continua em queda, como adiantou em primeira mão o InfraROI na reportagem publicada em 21 de outubro sob o título “Com pós-vendas e agro no contrabalanço, John Deere quer manter arrojo no Brasil”. Os dados da associação preveem 45% de declínio em todas as linhas de equipamentos de construção, incluindo caminhões rodoviários, guindastes e linha amarela. Sobre esse último, que tem dados estratificados, a queda será de 36,5%, totalizando a venda de 8,6 mil unidades.
“O setor de construção já esperava um ano ruim. Mas nem tanto. Já em março as empresas fabricantes e distribuidoras de equipamentos da linha amarela que participam da pesquisa previram a queda de 36% das vendas em relação ao ano anterior e isso se confirma agora”, diz o jornalista e economista britânico Brian Nicholson, que é o consultor responsável pelos levantamentos anuais da Sobratema.
Para 2017, a expectativa é de melhora de 7% nas vendas de equipamentos da linha amarela. Isso inclui escavadeiras, tratores de esteiras, retroescavadeiras, pás carregadeiras, mini escavadeiras, mini carregadeiras, rolo compactadores, motoniveladoras e caminhões fora de estrada.
Os destaques ficam para tratores de esteiras, cuja comercialização pode ser ampliada em 10% – saindo de 180 para quase 200 unidades ao ano – e para motoniveladoras, que pode ter as vendas aumentadas em 12% e chegar a 385 unidades, contra 345 vendidas neste ano.
“Fazendo um exercício – que não é estatístico – é possível prever que até 2020 podemos chegar às vendas anuais de 14 mil unidades (numa média entre os quatro próximos anos)”, diz Nicholson. Isso é uma avaliação superficial, feita com algumas construtoras, dealers e fabricantes. “Óbvio que esse volume pode ser concentrado em um só ano, ou dividido entre todos eles, mas a perspectiva que quero mostrar é que há um crescimento paulatino projetado”, completa.
Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema, é mais otimista e avalia que o crescimento do setor de equipamentos, e de toda a cadeia da infraestrutura, pode ser maior que o projetado, desde que as reformas políticas e econômicas em pauta no governo sigam como o enunciado. Para ele, há uma série de investimentos privados, concessões e parcerias público-privadas que podem sair do papel, alavancando o setor.
Lava Jato
Após dois anos e meio de operação, a frase de Eurimilson Daniel, também vice-presidente da Sobratema, resume a sensação da entidade: “não queremos mais ver sangue, queremos trabalhar”. Ele, diretor da Escad Rental e como tal representante do setor de locação de equipamentos pesados, avalia que o pior já passou e a operação conduzida pela 13ª Vara Criminal do Paraná está perto do fim.
Afonso Mamede, presidente da Sobratema e também diretor de equipamentos da Odebrecht, avalia que a operação Lava Jato é uma fase, que terá começo, meio e fim, e que nesse interim algumas construtoras envolvidas podem quebrar, mas outras irão se readequar e planejar crescimento a partir do término dos processos. “Toda a sociedade sabe que existia uma prática nesse mercado que precisa acabar. Nem todas as construtoras vão sobreviver, mas as que sobreviverem sairão fortalecidas porquê poderão trabalhar melhor”, diz ele. “Também é uma oportunidade para a entrada de empresas menores em projetos de construção de suas competências”, completa.
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O mercado em termos práticos
Na pesquisa conduzida por Brian Nicholson, um dos gráficos confronta o índice de confiança e a efetivação de negócios no setor da infraestrutura. E a divergência é grande, tendo a primeira linha subido após o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef e a segunda linha continuando estagnada. “Ou seja, a melhoria da confiança não foi revertida em negócios, ainda”, explica ele.
Novamente, para 2017 a expectativa é melhor, mas o consultor da Sobratema já chama a atenção para o fato de que o nível de expectativa positiva já está passando do primeiro para o segundo semestre do ano que vem. “E muitos apostam em uma retomada satisfatória somente em 2018”, mostra ele.
As vendas de equipamentos de todas as classes deve apresentar crescimento de 8%, podendo chegar a 15,5 mil unidades comercializadas, contra 14,4 deste ano. Isso inclui compressores portáteis, gruas, guindastes, plataformas aéreas, manipuladores telescópicos e tratores de pneus.
Outro extrato é o de caminhões rodoviários, cuja queda de 52% neste ano foi uma das mais fortes entre os equipamentos para construção. A boa notícia é que o mal momento parece ter estancado e as 45,4 mil unidades vendidas neste ano devem ser transformadas em quase 50 mil no ano que vem, o que representa 10% de incremento.