Exército conclui primeira etapa da Infovia do Solimões

Por Nelson Valêncio – 07.04.2016 – 

Trecho de 275 km de extensão tem redes de fibra óptica fabricadas pela Nexans, na Noruega, equipamentos da brasileira Padtec, e é listado entre os grandes projetos de instalação de infraestrutura subaquática no mundo. Ligação une as cidades de Tefé e Coari. Ligação entre a capital amazonense e Coari, de 400 km, está em andamento. 

Na década de 1990, a estimada explosão da internet levou a ativação de redes ópticas até mesmo para os canais de Veneza. O que parecia loucura dos italianos naquela época, hoje é realidade no Brasil. Com a previsão de instalar 7,7 mil km de cabos ópticos subaquáticos na região Norte, o projeto Amazônia Conectada teve o seu primeiro trecho concluído no final de março. Trata-se da ligação entre as cidades de Tefé e Coari, no Amazonas, com uma extensão de 275 km de extensão.

Inicio do lançamento no rio Solimões
Inicio do lançamento no rio Solimões, partindo do lado de Coari, no Amazonas.

 

A etapa faz parte da Infovia do Solimões, que tem ainda mais dois outros trechos: um de 400 km, que liga Manaus a Coari e que está em fase de andamento, e outro entre Tefé e Tabatinga (em planejamento). Ambos são passos na direção de conectar 52 municípios e atingir mais de 4 milhões de pessoas, não só com acesso a internet de banda larga, como também serviços como tele-educação e telemedicina. O empreendimento é coordenado pelo Exército Brasileiro (EB), fazendo parte de uma iniciativa do Ministério da Defesa.

 

 

De acordo com o capitão Luciano Sales, do Centro de Telemática do Exército (Citex) e gerente do Programa, a rede entre Manaus e Coari, atualmente em execução, terá um misto de infraestrutura óptica e de rádio para atender os prazos do projeto. O planejamento inicial é de que o trecho em andamento seja coberto por fibra óptica, com a infraestrutura de rádio servindo como redundância. A cargo da Embratel, a instalação da rede fixa está atrasada, daí a adoção do radio como solução temporária.

Etapa de lançamento em curso no rio Solimões
Etapa de lançamento em curso no rio Solimões

“São adaptações previstas para que o projeto cumpra os cronogramas”, adianta o militar, que comemora a finalização da etapa entre Coari e Tefé. Antes da empreitada ter sido iniciada, Sales destaca que o Citex instalou um piloto da rede em Manaus, numa extensão de 10 km. A fase zero da Infovia do Solimões (uma das redes da Amazônia Conectada) foi executada no rio Negro, outro dos afluentes famosos do Amazonas e serviu para entender os desafios esperados nas etapas maiores.

De acordo com Sales, o piloto trouxe lições de engenharia – entender os desafios de instalação da rede, a diferença entre os leitos e a correnteza dos rios, etc – de como enfrentar a burocracia. Com a fase experimental, o Citex analisou a complexidade de importação dos cabos de fibra óptica e a logística de recebimento do material. Fabricados pela Nexans na Noruega, os cabos de fibra óptica foram instalados por uma empresa brasileira da região amazônica.

Enquanto a Nexans se responsabilizou pelo fornecimento dos cabos, a Padtec, empresa brasileira localizada em Campinas, interior de São Paulo, foi a provedora dos equipamentos que, em função do clima agressivo da região, foram alocados contêineres similares aos adotados em data centers modulares. Os dispositivos adotam a tecnologia DWDM, a qual permite maior capacidade de transmissão de dados usando a mesma infraestrutura física.

Apesar de energizados via rede convencional de concessionárias de energia, os equipamentos conteinerizados possuem baterias sofisticadas, do mesmo tipo usado em submarinos. São elas que garantem a continuidade da operação da rede, com capacidade para 24 horas, caso o fornecimento primário seja interrompido. O uso de geradores foi evitado em função da complexidade da logística de abastecimento regular.

Assim como o capitão Luciano Sales, o gerente Comercial da Nexans responsável pelo atendimento do Amazônia Conectada, Nelson Albano, também aprendeu muito com a etapa de ativação entre Tefé e Coari. Focado primariamente na vertical de óleo e gás dentro da Nexans, o especialista lembra que a fabricante de cabos ópticos tem uma experiência consolidada em instalações subaquáticas, mas com projetos em águas submarinas.

Albano, da Nexans: experiência da fabricante em projetos submarinos ajudou no Amazônia Conectada
Albano, da Nexans: experiência da fabricante em projetos submarinos contou pontos

Ele avalia que as similaridades são maiores do que as diferenças, o que pautou o desenvolvimento dos cabos para as redes do Amazônia Conectada. Geograficamente ele destaca que o Programa terá uma infraestrutura física que segue cinco rotas: uma pelo rio Solimões, outra pelo rio Negro até São Gabriel da Cachoeira (AM) e uma terceira pelo rio Madeira até Humaitá. As duas finais serão entroncamentos do Solimões pelos rios Juruá e Purus.

Entre os desafios enfrentados, a Nexans lista o impacto ambiental, o qual exigiu o desenvolvimento de um produto exclusivo e adaptado para instalação na região. “Dependendo da época, as correntes de água ficam mais fortes que o comum, o que poderia causar movimentação indevida do cabeamento”, avalia Albano. De acordo com ele, o tipo de embarcação que deve ser usado para instalação foi cuidadosamente escolhido, assim como o seu posicionamento.

O fato de existirem regiões mais rasas nos rios que servirão de leito para a infovia também demandou o uso de um ou cinco barcos apoiadores para aplicação das fibras na avaliação da Nexans.

“Outra questão é a manutenção dos cabos. No caso de rompimentos, já existem equipes qualificadas para reparos utilizando ferramentas especiais para o trabalho, que deve ser feito com precisão”, explica Albano. Segundo a Nexans, os cabos especialmente desenvolvidos combinam limitado impacto ambiental, manutenção baixa e tecnologia de ponta.