5G é o foco de garantia de receita e sistemas de combate a fraude

Nelson Valêncio – 24.05.2019 –

Especialistas antecipam mudanças que podem complicar a monetização dos novos serviços

A rede móvel de quinta geração (5G) nem mesmo tornou-se o padrão do mercado ainda – o que vai exigir investimento em infraestrutura, entre outras ações – mas continua como foco da discussão entre os especialistas em garantia de receita e combate à fraude. É o que se depreende do WeMeet Europe 2019, encontro anual de usuários das soluções da multinacional portuguesa WeDo Technologies, que acontece até hoje em Cascais, Portugal.  Um aspecto básico das novas redes 5G – a baixa latência – traduz bem as preocupações. Uma rede de alta velocidade de dados torna viável, por exemplo, serviços como os carros autônomos, mas também exige que eles sejam cobrados em tempo real. Se isso não acontecer, a operadora e todo o ecossistema de Internet das Coisas, deixa de ser racionalmente monetizável.

Vamos explicar, com calma. Aliás, vamos usar um show de rock como modelo para as exigências em tempos de redes 5G. Esse modelo é uma das demonstrações do encontro da WeDo e ilustra bem como as operadoras – e seus parceiros – poderão ganhar com a chegada do 5G ou perder dinheiro e credibilidade. Voltando ao espetáculo: podemos ter fãs de rock que vão precisar de uma rede de quinta geração bem afinada. Um deles vai comprar o ingresso, contratar o serviço de um carro autônomo para a ida e para a volta do show e ainda vai usar gerenciar a segurança de sua casa de forma remota, enquanto assiste ao concerto ao vivo e em cores. A segunda usuária da rede 5G não sai de casa, mas vê o espetáculo com óculos de realidade aumentada (AR).

Para o primeiro caso, qualquer atraso na sincronização dos vários parceiros do ecossistema que controla o carro autônomo vai complicar a vida do usuário e prejudicar a operadora. Os erros são muitos. Um deles e a não validação do serviço, ou seja, ele pede o carro, mas o sistema não valida o pedido. Quando o serviço não é completado, quem perde é a operadora e a empresa de locação de veículos autônomos – estamos pensando em um cenário futuro onde essa oferta já existe. Mas quem paga o preço mesmo é a operadora porque o usuário final a tem como interface do serviço. Com as redes 5G ativadas, provavelmente teremos mais de uma operadora e mais de uma locadora de carros autônomos consorciados e, sem dúvida, a fila anda para a operadora que não tiver uma rede efetivamente sincronizada com todos seus parceiros.

Operadoras arcam com a má experiência de uso do cliente final 

Outra forma de perda acontece quando o serviço funciona, mas não é cobrado em toda a sua extensão. Mesmo que a cobrança não aconteça durante minutos, se a bilhetagem não estiver normal, isso significa que mais de um cliente usou o carro, mas a operadora e seus parceiros não foram monetizados. A rede 5G precisa de baixa latência, não tolera atrasos. Se eu compro um serviço de carro autônomo, devo ser cobrado em tempo real. A mesma coisa acontece com a cliente que não foi ao show, mas está assistindo ao espetáculo de casa, usando óculos de realidade aumentada. Se ela compra o espetáculo para assistir na tela da TV ou do computador, ela será cobrada de uma maneira, mas se escolhe a AR, a cliente final terá acesso a outros recursos e deverá pagar por isso. Uma vez que o sistema de bilhetagem não funciona, quem perde, de novo, é a operadora.

Então, resumindo: redes de alta velocidade e baixa latência como as 5G vão ser complexas e vão exigir parceiros que entendam essa complexidade e evitem que a operadora perca dinheiro porque não cobrou por seus serviços. Ou ainda pior: que a operadora seja penalizada porque abriu a porta para os fraudadores na casa de seu próprio cliente. Lembrando: o primeiro usuário da rede 5G de nosso exemplo precisa voltar para casa. Durante sua ausência, ele ativou uma série de serviços de segurança. Ao se aproximar da residência, ele pode desativando os recursos. Porém, ele também pode ser alvo de fraudadores antes mesmo de pensar em voltar. Quem pode impedir a fraude? Justamente um parceiro do ecossistema que conheça padrões de uso do cliente e também o inventário das artimanhas dos fraudadores. A validação de que o cliente seja de fato o cliente precisa acontecer em segundos, cortando o acesso dos criminosos se for o caso.

O editor executivo Nelson Valêncio está em Cascais a convite da WeDo Technologies.