Artigo: A origem da energia dos carros elétricos

Ricardo David* – 13.04.2022 – O benefício que carros elétricos podem trazer ao meio ambiente depende da matriz energética de um país

Quando falamos do mercado de carros elétricos, é normal pensarmos em questões diretamente relacionadas aos automóveis. Tentamos descobrir qual o melhor modelo, quais são os custos e benefícios da aquisição, dentre outras variáveis. Porém, existe um debate que não pode ser descartado: a análise ampla das questões estruturais e energéticas, no Brasil e no mundo.

No primeiro trimestre de 2022, tivemos um aumento de 112% no número de eletrificados emplacados no país, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Com cada vez mais automóveis elétricos em circulação, precisamos nos atentar na origem de nossa energia. Na última semana, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) reforçou que quase toda produção mundial de eletricidade deve ser procedente de fontes com zero ou baixa emissão de carbono para termos um futuro sustentável.

Isto é, quando pensamos em ações que diminuam o impacto da emissão de carbono no mundo, o carregamento dos carros elétricos deve ser pensado da mesma forma que a substituição dos veículos a combustão. É um paradoxo vermos mais carros elétricos em circulação se a fonte da energia que recarrega o veículo é suja. Se buscamos um processo realmente limpo, a matriz energética deve estar no debate do mesmo modo que a estruturação das cidades e estradas.

O Brasil, neste sentido, é privilegiado. No total, as fontes limpas e renováveis somam 80% da energia elétrica produzida no país, por meio de hidrelétricas, energia eólica e energia solar. Porém, com o aumento da demanda e com o avanço do mercado de carros elétricos, também precisamos buscar a ampliação da produção energética limpa em nosso país.

O relatório da ONU, divulgado no início do mês, apontou que a emissão de CO2 deve ser reduzida até 2025 para que o futuro da humanidade seja viável. E esta afirmação não é uma fórmula vazia, se buscamos a diminuição do impacto no aquecimento global, necessitamos pensar todos os aspectos da eletrificação de nossos automóveis: na energia utilizada na produção dos veículos em grande escala e na origem da energia utilizada pelo carregamento dos eletrificados.

Todas as declarações, de organizações de grande relevância, que estamos acompanhando, mostram como o setor precisa se estruturar imediatamente. E, para que possamos criar um futuro realmente sustentável, devemos fazer um esforço global, que deve partir de países que, infelizmente, ainda apostam na produção de energia suja. Enfim, deveríamos mudar essa realidade, pois quando mudamos as frotas de carro de combustão para elétricos a origem daquela energia importa, e para eliminarmos de fato o CO2 da atmosfera, precisamos de um esforço coletivo. Assim, não estaremos transferindo o problema da poluição gerada pelos automóveis para a matriz energética.

*Ricardo David é sócio-fundador da Elev.