Operadoras falham em oferecer casos de uso do 5G, afirma superintendente da Anatel

Redação – 23.03.2023 – Vinícius Caram aponta que o modelo de negócios não pode ser o de dados móveis para o consumidor, se não o investimento não vai se pagar

Vinícius Caram, superintendente de recursos à prestação da Anatel, afirmou que o problema para a expansão do 5G no Brasil não é o espectro, mas o desenvolvimento de ofertas do 5G. Durante o Fórum de Operadoras Inovadoras realizado hoje (22/3) em São Paulo (SP), o representante da Agência Nacional de Telecomunicações disse que só há apenas 18 pedidos para criar redes privativas na frequência 3,7 GHz, o que mostra a falta de interesse no modelo B2B de monetização do 5G, onde estaria a maior receita para as operadoras.

“Não falta espectro. O que falta é iniciativa das operadoras para criar ofertas que atraiam a indústria para o negócio”, afirma Caram. Para ele, se o modelo de negócios se mantiver na oferta de dados para consumidores finais, o investimento das operadoras não vai se pagar. Além disso, ele mostrou preocupação com as operadoras esperando as datas limites para implantar o 5G nas cidades. Hoje, 682 municípios já podem receber o 5G no 3,5 GHz, mas uma parte mínima já têm a rede disponível para a população.

Ainda segundo ele, não é o bastante apenas entregar a conectividade para a indústria. A operadora precisa ser uma integradora – ou fazer parceria com uma – para montar uma solução fim a fim, que use a conectividade para conectar robôs na linha de produção, por exemplo. Caram diz que precisa que seja apontado para o cliente onde está a eficiência e a economia que está na implantação da Indústria 4.0 a partir do 5G. “Enquanto não tiver alguém que aponte esse resultado, não vai ter indústria que invista na rede”, complementa.

O que a indústria anda fazendo

Já Igor Calvet, presidente da ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), diz que o problema está na falta de casos de uso que não surgem justamente pela falta de investimento em conectividade. Basicamente, a falta de iniciativa do setor em testar a tecnologia ainda não trouxe resultados que sirvam de subsídio para o investimento.

Por isso, a ABDI tem promovido casos de uso para mostrar o potencial do 5G na Indústria 4.0. Um exemplo é a WEG, que testou o 5G em uma rede privativa no 3,7 GHz NSA e SA para conectar AGV (veículos autoguiados), operações em realidade aumentada (AR) e outras tecnologias. Segundo Calvet, a experiência se mostrou bem sucedida, com maior eficiência na conexão do que com o Wi-Fi e redes cabeadas.

A dificuldade está em encontrar o retorno do investimento, afirma o presidente da ABDI. Ele explica que a falta de um ecossistema pronto e de ofertas maduras dificulta o investimento da indústria em uma rede privativa.