Rede neutra dá mais espaço para ISP buscar inovação no negócio, diz CEO da FiBrasil

João Monteiro – 23.03.2023 – Operadora de rede neutra diz que é possível ir além da oferta de preço e velocidade e que, para isso, é preciso que o ISP foque no serviço ao cliente

André Kriger, CEO da FiBrasil, operadora de redes neutras ligada à Telefônica, entende que o modelo de negócios em que atua dá mais espaço para que os provedores busquem formas de inovarem. Como o ISP não precisa se preocupar com a infraestrutura, ele pode focar mais nos seus clientes e desenvolver serviços que tragam mais valor à sua oferta, tentando se diferenciar da briga por preços e megas.

Como ele explica, ainda não há uma receita de bolo para que os ISPs consigam trazer uma nova oferta, mas o fato de focar no cliente e deixar a responsabilidade da infraestrutura com um parceiro já facilita no core business do negócio. “Os provedores podem deixar o lado chato com a operadora neutra e focar no marketing e no atendimento ao cliente”, disse ele durante o Fórum de Operadoras Inovadoras realizado hoje (22/3) em São Paulo (SP).

Ainda segundo Kriger, a disputa de mercado não precisa estar restrita apenas ao preço e aos megas se os provedores tiverem tempo de pensar mais no cliente. A própria rede da FiBrasil não é montada hoje com o XGSPON – apesar de estar preparada para essa tecnologia. Para ele, os clientes finais não têm uma demanda tão alta que puxe essa necessidade, até mesmo porque a maioria se conecta pelo Wi-Fi que, se não for o Wi-Fi 6, vai limitar a qualidade da banda.

“Saber qual é a solução que vai trazer essa diferenciação para o mercado é a resposta de 1 bilhão de reais. O que tenho visto provedores fazendo é agregando ofertas de streaming em seus planos ou oferecendo redes mesh como diferencial”, explica o executivo.

Como funciona o negócio da FiBrasil

A FiBrasil é uma joint venture formada pelo CDPQ, que é um fundo de investimentos que detém metade da operadora neutra, e duas empresas da Telefônica, a Vivo e a Telefônica Infra, com 25% da FiBrasil para cada. Segundo Kriger, isso é o suficiente para que a joint venture tenha independência para a sua operação.

No entanto, a rede da FiBrasil é montada de acordo com os planos de negócio da Vivo, que é o cliente-âncora. Isso quer dizer que toda nova rede da FiBrasil é criada quando a Vivo decide entrar em uma nova região, ou seja, o provedor que quiser entrar na rede neutra vai disputar clientes com a Vivo.

Outro ponto é que a FiBrasil não monta o backbone para o provedor, apenas a infraestrutura do PoP até a casa do cliente – a última milha. Se o ISP não tiver seu próprio backbone, ela pode fazer o meio de campo com outras operadoras de atacado para conectar na sua rede.

Por fim, a empresa já está presente em 140 cidades do Brasil, atuando quase em todos os estados. Em São Paulo, no entanto, a empresa não atua, já que há uma questão não resolvida quanto aos bens reversíveis, já que a Telefônica é a concessionária dos serviços de telecomunicações no estado.

Futuro do negócio

Kriger comentou que o crescimento inorgânico ainda é importante para a FiBrasil e que ela está aberta para novos investimentos. “Estudamos caso a caso porque a clientes que tem interesse em nos vender sua rede, mas em condições que não nos interessa.”

Como condições, entenda que ele fala de preço. A infraestrutura de rede é como se fosse uma commodity e o verdadeiro valor está na quantidade de clientes que estão nela. A questão é que há provedores, segundo Kriger, que querem vender a rede com o valor de clientes. Como a FiBrasil só está interessada na infraestrutura, os clientes continuariam com o provedor. “É como se a infra fosse a carne de pescoço e os clientes o filé mignon. E tem provedor que quer nos vender carne de pescoço a preço de filé”, explica.

Ele ainda conta que é possível que, no futuro, a FiBrasil atenda também operadoras de redes móveis, de olho na necessidade de conectar antenas para o 5G, mas que hoje o foco está nos provedores de internet.