Medição inteligente só faz sentido com tarifas inteligentes, diz Cyro Boccuzzi

João Monteiro – 07.10.2022 – Especialista no setor elétrico aponta o potencial que a medição inteligente pode trazer para o dia a dia e as finanças dos consumidores finais
Cyro Boccuzzi, sócio e diretor da consultoria ECOEE (foto: divulgação).

A medição inteligente é a principal disrupção tecnológica que vai atingir os consumidores finais de energia. A partir dela, será possível gerenciar, em tempo real, o consumo e estruturar estratégias para economizar na conta do fim do mês. No entanto, “o uso dessa tecnologia só faz sentido para as distribuidoras se a tarifa inteligente vier junto”. É o que define Cyro Boccuzzi, sócio-diretor da consultoria especializada no setor elétrico ECOEE.

Segundo ele, a tarifa inteligente é baseada em um preço fixo, que leva em conta os custos mínimos de distribuição da energia, mas que é calculada com algumas variáveis. “Hoje, uma conta de energia não é clara para o cliente final, que só sabe se paga mais caro ou mais barato de acordo com a cor da bandeira vigente. Mas a tarifa inteligente pode ir além disso”, explica.

Segundo Boccuzzi, a tarifa inteligente pode ter custos diferentes em horários diferentes, de acordo com o congestionamento do sistema energético. Ele explica que, basicamente, nos horários de menor pico de uso, o cliente paga menos pelo consumo de energia e vice-versa. Além disso, é possível adicionar outras formas de cobrança, como um pré-pagamento para limitar o consumo, por exemplo.

“Esse tipo de serviço é possível como derivação do medidor inteligente, que pode ser comparado a um computador conectado”, diz o especialista. Os dados recebidos podem ser enviados diretamente para a distribuidora e para o cliente, que pode ver no próprio smartphone como está sendo o seu consumo de energia em tempo real e, dessa forma, torna-se verdadeiramente empoderado da sua conta.

Regulamentação tenta acompanhar inovação

Para que iniciativas de inovação como essas possam virar realidade, também é necessário que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) participe do processo. De acordo com Boccuzzi, o órgão já estuda formas de permitir alternativas tarifárias a partir de sandboxes, que são experimentos realizados em áreas controladas durante determinado período de tempo.

Com esse tipo de iniciativa, que pode ocorrer dentro de bairros, por exemplo, é possível estudar o resultado do uso de novas tecnologias no setor elétrico. A expectativa de Boccuzzi é que as tarifas inteligentes, junto com diversas outras inovações, sejam testadas pela Aneel dessa forma, para que, futuramente, saiam do papel.

O especialista também concorda que é difícil a regulamentação acompanhar o ritmo da inovação, seja no Brasil ou em países mais desenvolvidos. “A mudança regulatória é uma atividade que envolve muitos estudos e muito experimentação, e ela sempre anda atrás da tecnologia”, diz, ponderando que o quadro técnico da Aneel é competente e busca permanentemente a atualização.

Os sandboxes são uma forma de agilizar esse processo, uma vez que, em vez de mudar a regulação inteira, só muda a regulação em uma determinada área e por um determinado tempo, fazendo uma espécie de experiência para depois evoluir.

Medidor inteligente e energia solar

Outra questão em que o medidor inteligente se destaca é em casas com o uso de equipamentos solares fotovoltaicos. A dificuldade, nesse tipo de consumidor, está na chamada intermitência, já que ele é capaz de gerar energia em algumas horas do dia e em outras não. “Com o medidor inteligente, o consumo de energia de clientes desse tipo se torna mais transparente, assim como a questão de créditos a serem recebidos pela geração de energia excedente”, explica Boccuzzi.

Aliada à questão financeira, está a automatização da rede de energia. Como os medidores trazem essa capacidade de se obter os dados em tempo real, a distribuidora tem mais visibilidade do consumo para saber quando ocorre alguma falha na rede. “Com as smart grids, a expectativa é que as interrupções de energia não sejam longas e nem frequentes, pois o sistema pode ser monitorado à distância em tempo real. Ou seja, estamos falando de um serviço automatizado que garante segurança para o cliente, rapidez no retorno de energia e de uma rede mais robusta, que não desliga à toa”, conclui Boccuzzi.

Smart Grid Fórum 2022

Cyro Boccuzzi também é responsável pela organização do Smart Grid Fórum 2022, evento anual que trata sobre a tecnologia no setor elétrico. Neste ano, o evento será realizado nos dias 29 e 30 de novembro, em São Paulo, atraindo executivos da área para debater sobre o ”A Energia Renovável, a Livre Comercialização e a Digitalização das Empresas e dos Consumidores, trazendo novos papéis e desafios aos agentes.”.

O evento ocorre desde 2008 e foi o pioneiro em trazer as discussões sobre inovação no setor elétrico, conta Boccuzzi. Na primeira edição, ele lembra, foram apresentadas as lâmpadas LED, que na época ainda tinham chegado há pouco tempo no Brasil e fizeram sucesso na feira – que acontece em paralelo com as palestras e painéis – atraindo curiosidade e até falas duvidando do sucesso dessas lâmpadas no País.

Durante esse tempo, o especialista viu o setor elétrico se transformar e as tecnologias baratearem. Os sensores de temperatura, por exemplo, custavam quase o mesmo que o transformador que ele gerenciava. Hoje, eles viraram praticamente commodity, segundo Boccuzzi. Por isso, ele diz que o desafio agora é a integração de tecnologias para que tudo atue de forma a otimizar a operação das empresas.

InfraDigital Day

A digitalização do setor elétrico também é tema da do InfraDigital Day, que contará com Cyro Boccuzzi e outros especialistas do setor de Energia. O webinar ocorre dia 8 de novembro e as inscrições são gratuitas.

A Jornada InfraDigital – Cibersecurity em Energia é uma iniciativa da plataforma de conteúdo InfraDigital, uma parceria entre o Portal IPNews e o Portal InfraROI, com o patrocínio da GlobalSign e da Netskope.