Queda das vendas do cimento não abala otimismo do setor

Redação – 10.04.2024 – Vendas de cimento caíram 3,5% no primeiro trimestre de 2024, mas a indústria cimenteira ainda está confiante na demanda dos próximos meses

A indústria brasileira de cimento registrou 14,3 milhões de toneladas em vendas no primeiro trimestre, o que representa um recuo de 3,5% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em março, a queda foi ainda mais acentuada, de 10,6% frente ao mesmo mês de 2023, com 4,9 milhões de toneladas comercializadas do produto.

Na comparação por dia útil (melhor indicador que considera o número de dias trabalhados e que tem forte influência no consumo de cimento), as vendas do produto registraram 216,2 mil toneladas em março, uma queda de 1,6% em comparação a fevereiro e de 0,5% em relação a igual período de 2023. Assim, o resultado trimestral apresentou uma redução de 1,1% ante os três primeiros meses de 2023.

Como resultado, a confiança da construção caiu em março, influenciada pela dificuldade de acesso ao crédito e a falta de mão de obra. No entanto, o setor se manteve otimista em relação à demanda dos próximos meses, em especial o segmento de preparação de terrenos, que antecede o ciclo de produção. Assim como as empresas do segmento de Infraestrutura e Obras Residenciais, que chegaram ao fim do primeiro trimestre com os maiores índices de confiança.

O anúncio da retomada das contratações do Programa Minha Casa, Minha Vida para as famílias enquadradas na Faixa 1 (com renda mensal de até R$ 2.640), os investimentos dos estados em programas de habitação e a nova solução para financiamento imobiliário apresentada pelo governo, o FGTS Futuro, apontam uma perspectiva de melhora nas vendas de cimento para o segundo semestre.

Fatores que levaram à queda

O SNIC diz que o período prolongado de chuvas intensas em diversas regiões do País somado ao menor período de dias úteis em 2024, impactou as vendas do produto. Além disso, os principais indutores do consumo de cimento continuam desacelerando em virtude da queda da renda da população e endividamento das famílias, que ainda segue próximo a 50% no limite da série histórica.

Ainda assim, há uma percepção de otimismo na venda de materiais de construção, que segue em alta e no mercado imobiliário de baixa renda com a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida e da nova modalidade de financiamento habitacional aos empreendimentos.

A confiança do consumidor subiu pela primeira vez no ano em março, após duas quedas consecutivas. Apesar da melhora no mês, a dificuldade em alcançar níveis mais satisfatórios da confiança ainda está atrelada às limitações financeiras das famílias. Mesmo com a recuperação do mercado de trabalho, o salário dos trabalhadores ainda permanece numa recuperação lenta.

Iniciativas ambientais

A agenda climática continua com extrema importância para o setor, que vem promovendo esforços para reduzir o impacto gerado no meio ambiente. O coprocessamento, atividade responsável pela transição energética substituindo o combustível fóssil por resíduo industrial, comercial, doméstico e biomassas, alcançou, em 2022, 30% de participação na matriz energética do setor, antecipando a meta prevista para 2025. Foram 3,035 milhões de toneladas de resíduos processados, sendo 2,856 milhões de toneladas de combustíveis alternativos e 179 mil toneladas de matérias-primas substitutas. Ao todo, a troca de combustíveis fósseis por alternativos contribuiu para que fossem evitadas cerca de 2,9 milhões de toneladas de CO2 no ano.

Ao final do ano passado, a indústria brasileira do cimento lançou também as bases do Roadmap Net Zero para acelerar a transição rumo a uma economia neutra em carbono. O posicionamento da indústria parte do Roadmap de Mitigação, lançado em 2019 e que apontava meios para reduzir a emissão de CO2 na produção de cimento, e amplia para o ciclo de vida do produto incorporando o concreto, a construção, a eletrificação, entre tantas outras ramificações, que permitam alcançar a neutralidade climática do setor até 2050.