Telemedicina ajuda a diminuir à metade a mortalidade em UTI pediátrica

Redação InfraDigital – 27.10.2021 – Projeto do Moinhos de Vento com hospitais públicos levou atendimento médico de qualidade para pacientes

Era 2018 quando o médico intensivista pediátrico Felipe Cabral, do Hospital Moinhos de Vento, implementou um projeto de telemedicina em hospitais públicos. A ideia foi utilizar a verba do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) para levar atendimento de qualidade para Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) mais carentes. O que começou como um estudo piloto permitiu a redução pela metade da mortalidade da UTIP de um dos hospitais públicos participantes. 

De acordo com Vanessa Jacovas, pesquisadora do Moinhos de Vento e líder do projeto TeleUTI, como é chamado o programa, os hospitais selecionados para participar foram o Hospital Geral de Palmas (HGP), na capital de Tocantins, e o Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral (CE). A intenção era permitir que, através de teleconsultas, pacientes das UTIPs e a própria equipe médica local entrassem em contato diariamente com os médicos do Moinhos de Vento, aumentando a troca de experiências e permitindo que médicos especialistas auxiliassem no tratamento de forma remota. 

Como explica o doutor Aristóteles Pires, os pacientes ganharam acesso a especialistas que não estavam disponíveis localmente. “Houve melhora no fluxo de diagnóstico e desfecho de internação”, destaca. “A assistência remota é muito semelhante ao que é feito presencialmente e as intervenções melhoram a qualidade do serviço a partir de novos protocolos e rotinas médicas”, afirma Pires, que também comenta que os colegas médicos que atuam localmente também enxergam melhora.  

A partir da interação entre as duas equipes médicas, uma em Porto Alegre (RS), onde fica o Moinhos de Vento, e outra local, um dos hospitais públicos conseguiu diminuir a mortalidade de sua UTIP em 50%. Para chegar neste dado, o Moinhos de Vento levou em conta os dados de um ano antes da implementação do projeto e o resultado um ano depois da ativação do TeleUTI. 

Como funciona a telemedicina no TeleUTI

Toda manhã, de segunda à sexta-feira, os médicos do hospital local utilizam um cart – carrinho equipado com câmera de alta definição que se movimenta vertical e horizontalmente, um sistema de áudio e tela – para permitir que os médicos do Moinhos de Vento conversem com cada um dos pacientes da UTIP por vez junto com a equipe médica local. 

Esse procedimento é chamado de tele-round por Pires. “As equipes médicas se reúnem e debatemos os diagnósticos e exames e quais iniciativas tomar para cada paciente”, afirma. Isso é similar ao que as UTIs fazem normalmente, mas, neste caso, tudo ocorre em tempo real de forma remota através de videoconferência, incluindo a avaliação de médicos especialistas do Moinhos de Vento, que ocorre duas vezes por semana. “Se precisar de uma avaliação neurológica, por exemplo, o neurologista vai entrar no round para atender o paciente”, complementa Pires. 

Reflexo na capacidade de atendimento da equipe local

Além do resultado direto na melhora dos pacientes das UTIs pediátricas, o TeleUTI trouxe também uma diferença na atuação local. Como Vanessa destaca, a ideia do projeto não era só prestar atendimento remoto aos pacientes, mas também capacitar as equipes locais para que pudessem “andar com as próprias pernas” ao fim do projeto. 

Juntos com os rounds diários e participação de médicos especialistas, que agregam experiência profissional aos médicos que atuam nos hospitais de Palmas e Sobral, há atividades de capacitação com as equipes médicas. 

A cada dois meses, é realizada uma videoaula para toda a equipe assistencial da UTIP local, desde médicos e enfermeiros intensivistas até nutricionistas, fisioterapeutas e outros especialistas. E no mês que não há a videoaula, as equipes de todos os hospitais participantes se reúnem para discutir um caso clínico complexo para debater as melhores formas de solucioná-lo. 

“Uma das formas de ver este projeto é a possibilidade é disseminar o conhecimento médico”, complementa Aristóteles Pires. “Quando você coloca duas equipes médicas em contato, vai haver uma troca de experiências e, na ponta, o paciente se beneficia.” Além disso, também há o feedback com os médicos residentes a partir dos rounds, o que agrega ainda mais conhecimento. 

Confira como o projeto TeleUTI evoluiu para atender mais UTIs e até auxiliar no combate à covid-19 na mais nova edição da revista InfraDigital Telemedicina.