Ponte estaiada de Foz acende alerta para outras construções do gênero no Brasil

Nelson Valêncio – 14.06.2022 –

No final de maio, a segunda ponte internacional entre o Brasil e Paraguai tinha alcançando um marco importante: apenas 100 metros separavam os dois lados da construção. Partindo do Brasil, em Foz do Iguaçu, o consórcio construtor tinha instalado 14 pares de estais, enquanto o lado paraguaio, saindo da cidade de Presidente Franco, somava 12 pares instalados. Quando for completada, a ponte estaiada terá 760 metros de comprimento e um vão livre de 470 metros. Os estais – cabos de aço usados para vencer médios e grandes vãos – passarão a ser um cartão postal da fronteira, mas com uma diferença: estão em linha com as normas europeias mais atualizadas.

Segundo Gerson Freitas, diretor Comercial da Dywidag, empresa alemã presente no Brasil desde a década de 1970, a Ponte Internacional da Integração Brasil-Paraguai será um marco por estar alinhada tecnologicamente com as construções mais modernas entre pontes estaiadas, permitindo uma execução mais precisa e uma manutenção mais inteligente. E seu exemplo pode replicar para outras do mesmo tipo. “Geralmente as pontes estaiadas no Brasil foram construídas seguindo as normas europeias do final da década de 1990, o que significa que exigem um cuidado maior”, avalia. Ele explica que o tempo de vida das construções pode ser afetada, caso as manutenções não levem isso em consideração.

Diferentemente, a segunda ponte em Foz do Iguaçu tem um sistema construtivo mais moderno, com os estais sendo instalados por meio de um macaco hidráulico digital, que pesa cerca de 20 kg, mas cuja precisão permite um balanceamento mais apurado da transmissão de carga. A metodologia resulta numa vida útil maior. As novas normas técnicas também permitiram agregar melhorias na etapa de manutenção: em vez de substituir todo um bloco de 37 cunhas que formam os estais, a metodologia construtiva aplicada na obra permite que sejam trocadas apenas as cunhas que apresentam problemas, reduzindo tempo e o custo das intervenções. O mesmo macaco hidráulico digital – inédito no Brasil – também é o equipamento adotado para o processo.

“Adotar as normas europeias atuais permite certificar que fatores como carga, estanqueidade e fadiga sejam previstas a longo prazo”, resume Freitas, lembrando que a Dywidag é responsável pela venda do sistema de estais e pela instalação, com mão de obra especializada, na segunda ponte de Foz. O contrato envolveu, inclusive, a vinda de dois técnicos espanhóis e um de Portugal. Aliás, a ponte internacional de Guadiana, entre os dois países ibéricos, é citada pelo executivo como construção estaiada que passou por uma recente manutenção, ampliando a vida útil.

O processo de substituição de todos os estais – feito progressivamente – foi encerrado em abril, é pode ser exemplo para aplicações similares no Brasil. Assim como aconteceu entre Portugal e Espanha, Freitas avalia que muitas pontes estaiadas locais precisam passar por uma manutenção mais precisa. Ele lembra que o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – já tem mapeado seus ativos construtivos que se encaixam no perfil, mas a questão de avançar na manutenção mais detalhada dependeria de disponibilidade de orçamento.

A manutenção de pontes e viadutos, por sua vez, não está limitada às construções como a ponte estaiada de Foz. O diretor da Dywidag destaca que a empresa tem executado intervenções para trocar o aparelho de apoio, elemento elastomérico flexível que fica entre o pilar e a viga em viadutos. Para essa operação é necessário usar macacos de suspensão, com manômetros digitais, que levantam os viadutos a alturas da ordem de centímetros. Parece pouco, mas estamos falando de estruturas pesadas e complexas. A mais recente intervenção com mão de obra e tecnologia da companhia alemã aconteceu em Brusque (SC), onde um viaduto foi erguido a 40 cm do chão.

Os estais aplicados a torres eólicas são outra frente de atuação da Dywidag: a empresa aplica o sistema que funciona como tendões internos às torres de concreto e que permite que as torres suportem a carga dinâmica de movimentação a que são submetidas pelas pás. Os estais, nesse caso, podem ser instalados pela parte superior ou inferior, mas são tensionados no fosso das estruturas de concreto, alcançando mais de 100 metros de altura. Eles também podem ser empregados em torres híbridas, cujo primeiro terço de altura é construído em concreto, e o restante em estrutura metálica. Nesse tipo de contrato, a companhia alemã opera com o mesmo pacote de soluções, que inclui produto, mão de obra especializada e equipamentos especiais.