Cinco formas para solucionar a crise no transporte público brasileiro 

Redação – 29.08.2022 – Especialista em mobilidade urbana diz que modelo de arrecadação via tarifas não é suficiente para manter o serviço 

O setor de transporte público vem passando por uma crise, que vem antes mesmo da pandemia de covid-19. Entre 2018 e 2019, 12,5 milhões de pessoas deixaram de usar o ônibus como principal meio de deslocamento, segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Em 2019, eram realizadas diariamente no País, em média, 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes, número que caiu para 22,4 milhões em 2021, representando diminuição de 32,6%. 

Isso se refletiu na receita das empresas que prestam o serviço. No ano seguinte, a partir do início da pandemia até abril deste ano, os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano de 2,7 mil municípios brasileiros tiveram uma perda acumulada de R$ 27,8 bilhões. 

O resultado é que os sistemas desse serviço público agora estão sem fôlego para investimentos de curto prazo, segundo Hugo Pereira, mestre em Engenharia de Transportes e professor da Universidade Positivo (UP). Para ele, o modelo de equilíbrio econômico baseado apenas na arrecadação de tarifas pagas pelos usuários se mostra insuficiente. 

Ainda segundo a NTU, a crise econômica no setor adiou a compra de novos veículos, fazendo com que a idade média da frota de ônibus do transporte coletivo do Brasil, com seis anos, seja a mais alta dos últimos 27 anos, um crescimento de 6,7% comparado com o ano do início da pandemia. Levando em conta esses fatores, Pereira aponta cinco questões que podem solucionar o problema econômico e de infraestrutura do transporte público urbano: 

Busca por novas receitas 

Com o custeio do serviço sendo insuficiente, o especialista defende que a busca por novas receitas deve ser objeto de discussão e proposições pelos órgãos gestores do sistema de transporte público do país. “Desde a exploração com publicidade nos espaços dos veículos utilizados até a isenção de impostos municipais que incidem sobre as tarifas do transporte, o debate deve ser feito de modo que o valor da tarifa atraia os usuários ao sistema, ou seja, uma tarifa mais acessível e que aumente a arrecadação”, explica. 

Pagamento de isenções legais 

Outra medida que deve ser permanente é o pagamento das isenções legais que são concedidas ocasionalmente, principalmente em ano de eleição. “É uma questão que representa uma parcela significativa dos passageiros, especialmente em algumas regiões e perfis demográficos mais carentes”, sugere. 

Subsídio da tarifa 

Se o benefício do governo federal das isenções é um caminho importante, a implantação de políticas de subsídio não fica atrás, sobretudo se causar um equilíbrio na operação e nos investimentos para modernização da frota. “A eletromobilidade e a redução das emissões de gases de efeito estufa são pontos fundamentais no debate da renovação de frota e na busca por uma agenda mais sustentável, além da redução no número de veículos automotores nas ruas”, destaca o especialista. 

Gestões técnicas e cooperativas 

Por se tratar de um serviço essencial à população, a discussão sobre o transporte coletivo deve somar esforços na questão da gestão do serviço. “As gestões técnicas e cooperativas do transporte público urbano necessitam focar na qualidade dos serviços, na otimização do sistema e na entrega de um serviço de confiabilidade aos seus usuários.” 

Transporte coletivo como prioridade 

Pereira alega que dar prioridade a esse meio de transporte pode ser a principal ação para contribuir com a melhoria dos sistemas de transporte público do Brasil, tornando mais equilibrada a competição entre o veículo particular e os coletivos. “Isso pode ocorrer por meio de políticas públicas, como nas discussões que envolvem o desenvolvimento urbano, ou com projetos que contribuam para um aumento de velocidade – com segurança – proporcionando uma redução do tempo de viagem”, finaliza.