Sem minerais não haverá transição energética

Comecei minha carreira jornalística como repórter da área de mineração e sigo ligado ao setor de outras formas, produzindo conteúdo. Então, para mim não causa espanto que os minerais estejam posicionados como estratégicos para a transição energética, como pontua o artigo The raw-materials challenge: How the metals and mining sector will be at the core of enabling the energy transition, da consultoria McKinsey, publicado em janeiro desse ano.

O material é curto, mas tem musculatura e chama a atenção a primeira tabela, onde estão colocadas as demandas de energias renováveis como a produção de aerogeradores para parques eólicos e baterias para carros elétricos, e os minerais estratégicos que entram na composição desses componentes. Lá estão o lítio e as terras raras, mas também o cobre, o zinco e outros mais comuns no nosso dia a dia.

Foi esse relatório que eu usei para pautar uma matéria na Brasil Energia, para a qual ouvi alguns especialistas do Cetem, Serviço Geológico do Brasil, CBIE e o CEO da CBL, a mais antiga empresa mineradora do país a explorar o lítio. E ela é um daqueles exemplos que desafiam o complexo de vira-lata que teima em acompanhar alguns brasileiros, pois domina a tecnologia de purificação do lítio, inclusive para uso farmacêutico, cuja exigência é maior do que a das baterias usadas em carros elétricos.

Também é interessante perceber que o Brasil é um player importante na produção de outros minerais críticos, incluindo aí o cobre e níquel, entre outros. Mesmo o ferro entra nesse processo. E devemos ficar atentos, pois o relatório da McKinsey indica que que haverá um aumento de 140% na demanda de cobre, níquel e zinco para atender a transição energética para fontes eólicas, no período de 2020 a 2030. Na área de geração solar, a demanda será ainda maior: 480%.

Outro dado interessante é o desafio das cadeias de suprimentos. O susto da guerra da Ucrânia e da pandemia de Covid-19 mudou o cenário nessa área. É fato que os países dão preferência agora por fornecedores que estejam mais próximos. E, nesse caso, o Brasil pode reforçar seu papel de supridor de matérias-primas críticas como os minerais para transição energética para clientes nos Estados Unidos, por exemplo.

Para avançarmos, no entanto, é necessário que o setor mineral seja encarado de outra forma. Sem estereótipos e de forma estratégica como um grande impulsionador econômico e ecologicamente responsável, criando um ecossistema que produza materiais cada vez mais sofisticados e de maior valor agregado. Em vez de exportar somente o minério de lítio, por que não caminhar para a produção local de baterias ion lítio?

A resposta está em um projeto de país, algo que esperamos que seja retomado.