Relatório aponta que Brasil pode liderar economia de baixo carbono

Redação – 23.11.2022 – Relatório desenvolvido pela Systemiq Brasil com organizações multilaterais, traz a teoria da mudança ‘Maratona Amazônica” e indica 11 jornadas para impulsionar o desenvolvimento da região 

Nos próximos oito anos, o Brasil pode se tornar a primeira grande economia – de média ou alta renda – a alcançar a neutralidade de carbono e ao mesmo tempo acelerar o seu crescimento econômico em US$ 100 a US$ 150 bilhões anuais ao PIB adicionais ao ritmo de crescimento atual (2,5% ao ano). Os dados são de um relatório apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – a COP27, realizada no Egito na última semana. 

Segundo o documento, o potencial de mitigação de emissões de carbono equivalente (CO2e) é de 1,3 giga tonelada até 2030. Isso é superior à atual pegada de carbono do País, que ainda poderá contribuir com cerca de 1,9 Gton em excedente de carbono para o resto do mundo até 2050. Com isso, o Brasil será um exemplo concreto ao mundo de prosperidade econômica sustentável para as próximas décadas, modelo que pode inspirar todo o Sul Global. 

Chamado “The Amazon’s Marathon: Brazil to lead a low-carbon economy from the Amazon to the world”, o documento é um plano de desenvolvimento econômico que apresenta análises robustas sobre o potencial da região ao calcular a oportunidade financeira por trás das estratégias de mitigação de emissões de gases efeito estufa (GEE). Ele também destaca projetos escaláveis que promovem uma nova abordagem baseada na natureza, centrada em pessoas e positiva para o meio ambiente. 

O estudo foi desenvolvido por instituições, organizações e especialistas que são referências globais sobre o papel da Amazônia na mitigação da crise climática, como o climatologista Carlos Nobre, a empreendedora cívica Ilona Szabó, presidente e cofundadora do Instituto Igarapé, e o professor especialista em desenvolvimento sustentável Virgílio Viana, fundador da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Diversos outros cientistas, líderes empresariais, públicos e do setor social, povos indígenas, comunidades locais da Amazônia também contribuíram com o relatório. 

O que propõe o estudo 

A teoria da mudança do relatório (‘A Maratona Amazônica’) propõe 11 jornadas para o Brasil liderar a economia pelo carbono zero, a Race to Zero, (jornadas I a IV), apoiar a Corrida pela Resiliência, Race to Resilience, para as 28 milhões de pessoas vivendo na Amazônia (jornadas V a VIII) e garantir a infraestrutura e as condições necessárias para ambas (jornadas IX a XI). 

Jornadas Race to Zero: US$ 150 bilhões de valor econômico: 

  1. Valorização da floresta em pé: Redefinir o valor da floresta em pé desenvolvendo uma bioeconomia robusta; 
  2. Agricultura sustentável: Promover práticas agrícolas positivas para a natureza e para as pessoas; 
  3. Indústria e energia net zero: Descarbonizar o setor de energia e as grandes indústrias responsáveis por altas emissões 
  4. Inovação em tecnologia e bioeconomia: Promover tecnologia e inovação para apoiar uma bioeconomia próspera; 

Jornadas Race to Resilience: 8 milhões de empregos: 

  1.  Atividades e empregos em tecnologia verde: Desenvolver a mão de obra dos trabalhos para atividades de tecnologia verde no futuro; 
  2. Bem-estar: Garantir o bem-estar e a resiliência do povo amazônico, preenchendo a lacuna da desigualdade social; 
  3. Prosperidade: Promover a prosperidade fornecendo às comunidades da Amazônia as ferramentas para construir uma bioeconomia próspera; 
  4. Sabedoria e cultura ancestral: Resguardar o conhecimento ancestral para alimentar o crescimento social, espiritual e econômico; 

Jornadas de Infraestrutura e condições necessárias:   

  1. Estado de Direito: Restabelecer o Estado de Direito e fortalecer as instituições responsáveis; 
  2. Estrutura financeira: Desenvolver a infraestrutura financeira para mobilizar capital global para a corrida ao zero e à resiliência; 
  3. Sul Global como epicentro para colaboração global: Promover a cooperação dos stakeholders por meio da construção de coalizões, ao mesmo tempo em que posiciona o Sul Global como um sistema e formador de regras.

Projetos ambientais 

Entre os muitos projetos detalhados no documento sobre economia de carbono, estão o Corredor Verde da Amazônia, uma parceria de diferentes atores para desenvolver um cinturão verde na fronteira da floresta amazônica. A intenção é criar clusters e escalar projetos focados na produção sustentável de commodities normalmente associadas ao desmatamento, cacau e café.

O relatório propõe também a criação do Instituto Amazônia de Tecnologia, um centro ensino superior público-privado dedicado a promover a bioeconomia florestal sustentável e socialmente inclusiva por meio da educação, ciência, tecnologia e inovação. 

Outro projeto é trazer a coalizão global Food and Land Use (FOLU) para o Brasil. A iniciativa já está presente em mais de 10 países e atua ao longo de toda a cadeia de valor da produção de alimentos, unindo atores e companhias diversos para buscar melhores técnicas e soluções sobre como são produzidos e como a terra é usada. 

Adicionalmente, o relatório traz que o desenvolvimento da bioeconomia local pode destravar um mercado – pouco explorado – estimado em US$ 1,3 trilhão, e gerar cerca de US$ 50 bilhões adicionais para a economia por ano até 2030.