Setor de transportes é o vilão das emissões de gases poluentes em SP e RJ

Redação – 27.04.2023 – 62% das emissões de GEE na cidade de São Paulo vêm do setor de transportes, enquanto no Rio de Janeiro são 35% 

O estudo “Economia Circular – Cidades do Futuro e Descarbonização” mostra que o transporte é o principal desafio das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro na diminuição das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A poluição causa por este setor foi responsável por 62% das emissões em São Paulo (dados de 2018) e 35% no Rio de Janeiro (dados de 2019). Na capital paulista, estima-se que um terço das emissões do transporte rodoviário a diesel tenha como fontes ônibus urbanos municipais. O estudo foi feito por pesquisadores do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e da Exchange 4 Change Brasil, a pedido da Enel Brasil. 

Em São Paulo, as projeções apontadas pelo estudo indicam um aumento de 100% nas emissões até 2050 em relação aos dias de hoje, se não houver esforços para a mitigação. No cenário ambicioso (aquele que prevê ações viáveis e que estejam ao alcance da administração municipal), ocorre uma redução de 30% em relação aos níveis atuais. 

No Rio de Janeiro, o cenário tendencial aponta para um aumento de 59% das emissões até 2050. Com a adoção de medidas mitigadoras, a redução fica em 42% no cenário ambicioso e 88% no cenário estendido. As ações voltadas ao setor de transportes, incluindo o aumento da eficiência energética e a mudança de combustível, representam as maiores reduções de emissões de GEE na cidade. 

Seis pontos para a descarbonização de metrópoles 

A partir do panorama das emissões e das metas para alcançar a neutralidade em 2050 nas duas capitais, a pesquisa apresenta um diagnóstico e traça seis pontos-chaves que apontam caminhos para as cidades avançarem na descarbonização. 

A primeira recomendação do estudo é repensar o modelo das cidades, reduzindo as distâncias a serem percorridas pelos cidadãos, produtos e bens consumidos. A magnitude das emissões associadas ao setor de transportes evidencia a importância desse novo design urbano, além da descarbonização do setor. Uma solução óbvia é a eletrificação da frota, sendo abastecida por uma matriz renovável. 

O segundo ponto-chave é a adoção de novos modelos de negócios. Segundo a pesquisa, algumas das medidas propostas nos Planos de Ação Climática das duas cidades terão alcance limitado se não estiverem associadas a novos modelos de negócio. Uma sugestão é a adoção de Parcerias Público-Privadas (PPPs) em cidades que já buscam alternativas para descarbonizar suas frotas e desenvolver infraestrutura para eletrificação veicular. 

A diversificação da matriz elétrica brasileira é outra indicação do estudo para evitar o acionamento de termoelétricas em casos de escassez hídrica. É preciso ampliar a capacidade instalada de geração de energia no País, com ênfase no uso de fontes renováveis e limpas, como eólicas, fotovoltaicas e de biomassa. 

Gestão pública e participação popular 

A quarta recomendação do estudo destaca que as ações para a promoção da circularidade e da descarbonização nas cidades devem priorizar a qualidade de vida dos cidadãos, sem acentuar a desigualdade e os problemas sociais característicos das grandes cidades. Para isso, as políticas públicas devem tornar igualitário o acesso às tecnologias previstas para a descarbonização, como uso de carros elétricos e a instalação de painéis fotovoltaicos. 

A adoção de processos circulares nas compras públicas e governança é a quinta orientação dos pesquisadores. De acordo com o estudo, as administrações públicas precisam priorizar a aquisição de ativos que tenham em sua composição materiais renováveis, recicláveis ou biodegradáveis e menor emissão de carbono na sua produção. 

A sexta recomendação do estudo ressalta a importância da participação de toda a sociedade no processo de descarbonização, com a mudança cultural e de comportamento do consumidor. Neste processo, é necessário o envolvimento dos setores industrial e comercial, já que é a mudança nas formas de produção, comercialização e consumo de bens é imprescindível, assim como as formas de prestação de serviços. 

O poder público também deve atuar como fomentador da transformação em processos de produção, estimulando a redução da geração de resíduos e poluição, por meio de estratégias de regulação e fiscalização dessas atividades.