Por Nelson Valêncio

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Transmissão de energia vive ciclo de investimentos inédito

Nelson Valêncio – 12.07.2023

A expansão da infraestrutura de transmissão no Brasil está vivendo um ciclo virtuoso. Em dezembro acontece o segundo leilão desse ano, com investimentos previstos de R$ 20 bilhões, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O primeiro leilão – realizado no último dia 30 de junho – teve todos os nove lotes arrematados, somando investimentos previstos de R$ 15,7 bilhões, com prazos de até 66 meses. Em março de 2024, o setor deverá ter um novo certame, fechando um total estimado de R$ 56 bilhões somente nos três eventos.

Esse volume enorme de investimento será aplicado em obras de linhas de transmissão e na construção de subestações de energia. Essa infraestrutura basicamente reforça o sistema de transmissão e está direcionado, em sua maior parte, para o escoamento das energias renováveis solar e eólica do Nordeste e norte de Minas para a demanda, principalmente, dos estados do Sul e Sudeste.

São investimentos pesados e que exigem muita especialidade técnica. É o caso do bipolo previsto para o segundo leilão desse ano, interligando Graça Aranha, no Maranhão, a Silvânia, em Goiás. De modo bem simplificado seria uma espécie de via expressa de transmissão de energia, com tecnologia que reduz perdas ao longo dos mais de 6 mil km de rede.

O sucesso do recente leilão de junho pode ser medido de várias maneiras. Além da negociação de todos os lotes propostos – sete deles de grande valor – o certame mostrou a forte presença de empresas do setor de construção, principal bloco ganhador dos lotes propostos. Foram essas empresas que puxaram a Receita Anual Permitida (RAP) para um deságio maior. A menor RAP, nos leilões de transmissão é o critério para vencer a disputa. Quanto maior o deságio em relação ao preço inicial proposto pela Aneel, menor a RAP.

A atual estruturação dos leilões – dois em 2023 e o terceiro em 2024 – também indica uma tomada de fôlego do ecossistema que forma o setor de transmissão. As construtoras – algumas das quais devem vender as linhas de transmissão após a finalização das obras – estão lotadas de contratos e algumas delas, em função do cenário de juros e da pandemia, precisam se reorganizar financeiramente.

Outro componente complexo envolve os fabricantes. E, em particular, duas áreas sensíveis. A primeira são os fabricantes de torres metálicas – também muito acessados e com a missão de atender outros segmentos, caso das rodovias (defensas metálicas, entre outros). Os players na área de equipamentos também se reprogramam, principalmente os fabricantes de transformadores, uma vez que a demanda está acima da média e os prazos apertados.

Cabe aqui uma observação: apesar do brasileiro, vez ou outra, manifestar seu complexo de vira lata, o mercado de transmissão de energia – assim como outros segmentos desse setor – funciona muito bem orquestrado, desde a fase de planejamento pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), passando pelo meio de campo feito pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) até a fiscalização atenta da Aneel. E, é claro, pela presença de concessionárias nacionais e estrangeiras, com alto investimento no segmento. O ciclo, como se vê, é virtuoso.