Com sobrecarga nas rodovias e frota velha, Brasil desperdiça 30% de combustível

Redação – 05.10.2022 – País precisa de investimentos nos próximos 15 anos para logística não entrar em colapso, diz especialista 

O País desperdiça hoje 30% de combustível com sobrecarga nas rodovias e uma frota velha de caminhões, afirma o especialista em logística e sócio da Pathfind, Antônio Wrobleski. Ele lembra que 62% de toda carga é transportada por rodovias brasileiras e que a logística no Brasil precisa de intervenções urgentes nos próximos 15 anos para não entrar em colapso.  

Wrobleski afirma que o Brasil deixaria de jogar fora “minimamente, numa avaliação bem contida” 30% de combustível se tivesse uma melhor intermodalidade. De acordo com ele, contribui bastante para a piora no segmento de transporte rodoviário que a frota brasileira de caminhões é muito velha, tem em média 20 anos. 

“Conseguimos baixar essa média no passado, com financiamentos dedicados a caminhões, mas hoje esse número voltou a envelhecer. Já chegou a 12, 13 anos, está em 20 anos. A idade ideal para a frota de caminhões é oito anos a no máximo 10 anos”, alega. 

De acordo com o especialista, o investimento em infraestrutura no Brasil deveria girar em torno de 3% a 4% do PIB, mas não ultrapassa 1%. “A China, nos áureos tempos, fazia dois dígitos de investimento em infraestrutura. A falta de investimento em infraestrutura é um fator seríssimo, uma grande barreira a ser superada para que o Brasil possa alcançar a média dos países desenvolvidos no mundo”, garante. 

Setor de logística em crise 

“Temos uma situação crucial para o setor de logística. As perdas hoje já são imensuráveis em todos os sentidos, para a natureza, para o valor do produto. Se não houver planejamento e investimentos nos próximo 15 anos, o segmento vai enfrentar sérias dificuldades”, afirma. Ele cita que o custo logístico nacional é de 12,5% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos Estados Unidos não chega a 8%. 

O especialista lembra que quase nenhum investimento foi feito no setor ferroviário no Brasil, que é praticamente o mesmo de 100 anos atrás. O Brasil tem três vezes o tamanho da Argentina, mas o País vizinho ostenta mais quilômetros de ferrovias. A linhas férreas brasileiras somam cerca de 31 mil quilômetros, enquanto as argentinas têm 34 mil quilômetros. 

As ferroviais representam 20% do transporte de cargas no Brasil, que é complementado por cabotagem/aquavias (14%), aerovias (0,3%) e outros sistemas (3,6%). Para ser mais competitivo em logística, segundo o especialista, o ideal seria que, em 15 anos, o País pudesse reduzir a carga rodoviária a 40%, aumentar a ferroviária para 30% e a de cabotagem para 25%. “Isso depende de um plano longo de investimentos, que precisa começar agora”, diz. 

Armazéns logísticos e automação 

Mas o transporte não é o único ponto que merece atenção no setor logístico. A armazenagem e a automação precisam acompanhar a demanda. O comércio eletrônico cresceu na pandemia em torno de 26% no Brasil, segundo estudos, e continua em alta mesmo após a retomada das compras presenciais. Esse incremento, que ocorreu no mundo todo, exigiu o aperfeiçoamento dos sistemas de armazenagem. 

A automação no armazenamento reduz custos gerais do negócio e erros nas entregas de produtos. De acordo com levantamento da empresa DHL, no entanto, apenas 5% dos armazéns são automáticos no Brasil, 80% ainda operam manualmente sem automação de suporte e os outros 15% utilizam transportadores, classificadores e soluções pick and place, entre outros equipamentos não necessariamente automatizados. 

A estimativa é de que o mercado global de automação de armazém registre taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 12,5% entre 2021-2026. Wrobleski aponta que cada vez mais a automação deverá fazer parte dos armazéns logísticos. “Internet das coisas, machine learning e inteligência artificial terminam ou começam dentro de armazém. A tendência de armazém logístico automatizado é muito forte para buscar a previsibilidade e a assertividade. A automação é a grande ligação entre o interno e o externo, entre o mercado e aquilo que está saindo do armazém”, afirma. 

O especialista lembra que o investimento em robotização é grande, o nível de retorno é longo, portanto, quanto mais bem treinadas as pessoas estiverem, mais rápido é o retorno. “Há os sorters, como os sorters falam com o TMS, como o TMS joga para o SAP, como vai para as ruas. Quanto melhor isso for compreendido, melhores os resultados”, alega. Segundo ele, com as eleições, é hora de repensar o País. “Hora de menos política e mais economia, ou mais política com foco, direcionamento, pensando num Brasil melhor para as próximas décadas”, aponta.