A transformação digital é a chave para destravar o setor de Óleo & Gás

Fernanda Martins* – 31.07.2023 –

O setor de Óleo & Gás (O&G) enfrenta desafios crescentes. A incerteza do mercado e a volatilidade dos preços estão afetando o setor, dificultando o planejamento e a execução adequados pelas empresas. Os eventos geopolíticos em andamento fraturaram cadeias de suprimentos já frágeis, enquanto a ressaca da pandemia global reformulou a dinâmica dos trabalhadores e reduziu a força de trabalho disponível.

Além de regulamentações ambientais cada vez mais rígidas, as empresas precisam lidar com pressões da sociedade e da indústria para atender às novas metas ESG (Environmental, Social, Governance).

Em função do cenário econômico difícil dos últimos anos, muitas empresas do setor relutam em investir em atualizações de capital e também em infraestrutura digital para aumentar a sua eficiência. No entanto, as margens mínimas de hoje e as altas apostas estão agindo como um propulsor para que elas busquem por soluções tecnológicas para lidar com tais desafios.

Em todo o mundo, as empresas de Óleo & Gás estão obtendo sucesso por meio da digitalização do trabalho. Novas formas de trabalhar com tecnologia, baseadas em plataformas de dados comuns, análises avançadas e visibilidade global, estão ajudando essas organizações a se tornarem mais lucrativas.

De acordo com o recente relatório Industrial Transformation in 2021: Getting Real, da LNS Research, metade das empresas industriais relata que embarcou em uma jornada de transformação digital e que esses programas estão gerando benefícios muito reais. A LNS descobriu que os líderes em transformação digital têm 72% mais chances de aumentarem as receitas em mais de 10%, e 57% mais chances de reduzirem o custo dos produtos vendidos (CPV) em mais de 10%.

Por meio da adoção de ferramentas digitais, as empresas podem alavancar seus próprios dados industriais e transformá-los em insights inovadores. Esses dados de valor agregado permitem acelerar o tempo desde o conceito até a produção em plena capacidade; capacitar a força de trabalho; otimizar a cadeia de valor para criar operações mais ágeis; alcançar operações confiáveis, eficientes e seguras; e atender aos objetivos de sustentabilidade e de descarbonização.

Operações otimizadas por meio da digitalização

Para acelerar sua transformação, as empresas de O&G voltadas para o futuro estão alavancando iniciativas digitais impulsionadas pelos mais recentes avanços na nuvem, com a inteligência artificial (IA), big data, gêmeo digital e Internet das Coisas Industrial (IIoT). Construídas com base em princípios de design de software industrial abertos e agnósticos, essas organizações estão usando as tecnologias para superar os principais desafios e, ao mesmo tempo, melhorar a sustentabilidade e a lucratividade de seus negócios.

Ao digitalizar o trabalho, elas podem melhorar drasticamente a colaboração e a eficiência, priorizar os gastos de capital e criar operações mais ágeis que possam resistir às mudanças do mercado. Como o trabalho digital permite que os colaboradores concluam tarefas remotamente em diferentes sites e locais, os operadores podem realizar mais do que apenas resolver problemas. Por meio de fluxos de trabalho digitais, eles são capazes de melhorar a eficiência geral e usar o tempo restante para inovar e ajudar as empresas a criarem resiliência contra interrupções na força de trabalho, além de atraírem uma nova geração de trabalhadores.

As ferramentas digitais não apenas aprimoram a colaboração em toda a organização, mas também podem unificar operações e cadeias de suprimentos, quebrando silos e abrindo novos caminhos para o fluxo informacional. Ao centralizar percepções e visualizações operacionais, os operadores podem colaborar sobre as mesmas informações ao mesmo tempo para identificar pontos fracos nos negócios, trabalhando juntos para melhorar a eficiência e a lucratividade.

Dados compartilhados alinhados com análises avançadas melhoram a transferência de conhecimento institucional e capacitam a força de trabalho. Mesmo quando os funcionários estão ausentes ou se aposentam, os novos colaboradores podem tomar decisões informadas, acessando informações em um repositório digital central, com dados operacionais contextualizados e orientação baseada em IA.

A digitalização também melhora as iniciativas de sustentabilidade e de conformidade regulatória. Os aplicativos de software podem otimizar as operações, simplificar os relatórios ambientais e maximizar o uso de energia.

Agilidade e resiliência

Com dados operacionais confiáveis e modelos precisos, as empresas podem otimizar cada parte da cadeia de valor. Da otimização de processos ao gerenciamento de estoque e equilíbrio entre oferta e demanda, eles estão aptos a descobrir novas oportunidades que levam a uma maior lucratividade.

Operações ágeis começam com dados e integrações de boa qualidade – e isso requer uma convergência das áreas de engenharia, de operações e de tecnologia da informação. Ao criar uma fonte única e confiável de dados operacionais em tempo real, e contextualizar essas informações junto com dados de engenharia, desempenho e financeiros, as equipes podem usar ferramentas baseadas em IA para executar comparações e simulações em tempo real para encontrar novas eficiências.

BP: Uma história de sucesso digital

Os negócios downstream da gigante global de energia BP processam 1,7 milhão de barris por dia em oito refinarias ao redor do mundo. Infelizmente, a tecnologia desatualizada da empresa não era intuitiva e dificultava o compartilhamento das melhores práticas entre os diferentes locais. As equipes também não conseguiam tomar decisões rapidamente para refletir as mudanças do mercado, levando à perda de oportunidades e benefícios. Como parte de seu Programa de Inovação Digital, a BP optou por revisar seu processo global de gerenciamento da cadeia de suprimentos downstream para permitir operações mais ágeis.

A companhia implantou uma série de tecnologias digitais na nuvem para maximizar a captura de margem, a eficiência e a sustentabilidade. Uma das soluções foi usada para otimizar o planejamento de produção de seus negócios downstream, o que permite que as equipes executem rapidamente análises complexas, usando dados precisos e em tempo real. Ao simplificar e padronizar o gerenciamento de sua cadeia de suprimentos, a BP promoveu melhorias na colaboração e no planejamento, o que aumentou a agilidade geral, reduzindo significativamente o tempo de compra de petróleo bruto e melhorando a modelagem das emissões de CO2.

No geral, a BP melhorou significativamente as margens ao tomar decisões melhores e mais rápidas, aumentando a precisão do planejamento e da análise e diminuindo o tempo necessário para analisar as informações de horas para minutos.

Tornando-se verde

A sustentabilidade e a descarbonização são os principais impulsionadores da indústria de Óleo & Gás. À medida que as empresas buscam alcançar metas líquidas zero até 2050, elas devem aumentar a conformidade com os mandatos de transição energética e abrir novas cadeias de valor para carbono e hidrogênio.

Atingir essas metas e atender às novas demandas do mercado exigem que as empresas reformulem seus modelos de negócios, aumentem os investimentos em programas ESG e reforcem as iniciativas de descarbonização. E, para serem bem-sucedidas nessa empreitada, precisam modernizar as instalações e aumentar a visibilidade em toda a cadeia de valor.

O acesso a dados confiáveis, os modelos de otimização na nuvem e a visualização aprimorada de KPIs fornecem às empresas a inteligência operacional necessária para impulsionar a cadeia de valor, reduzir emissões e inovar para atingir metas energéticas.

Por meio de iniciativas digitais impulsionadas pelos capacitadores de tecnologia mais recentes, as empresas de O&G podem construir uma infraestrutura de informações industriais e atualizar aplicativos de engenharia e de operações para acelerar a criação de valor.

Desse modo, poderão visualizar e compartilhar dados industriais com suas equipes e parceiros em seu ecossistema. Ao realizar tais iniciativas, as empresas do setor podem simplificar os ciclos de engenharia, alcançar a excelência operacional e capacitar suas forças de trabalho para impulsionar a economia circular e garantir operações lucrativas e sustentáveis.

*Fernanda Martins é Diretora Industrial de Energia e Mercados Emergentes.